O J A S M I M
Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração original do autor: “Rapsódia”.
Junho, 2018.

FLORESCEU O JASMIM!
Dele jorra Poesia,
Embriaga-me
O aroma...
Renovo-me
Em fantasia!
DAS PALAVRAS
Vou à cor,
O seu perfume
Ilumina,
Bate o sol
Em suas pétalas,
É luz intensa
Que brilha
No poema que
Germina!
JÁ NÃO É SÓ
O Loureiro!
Agora canto
O Jasmim!
É tão intenso
O aroma
Que se renova
Em mim!
INUNDO-ME
De palavras,
Canto
Esse mundo
Da cor,
Subo ao céu
Com tuas asas,
Vai comigo
Esta dor...
SOU ÍCARO
Lá no alto...
..............
E se o sol
Me bate forte
Caio em mim
Do meu poema
E no chão
Fico sem norte...
PEÇO AJUDA
À montanha...
Volto a subir,
Que alegria!
Foi nela
Que eu nasci
E sou feliz
Lá no alto,
Nem que seja
Por um dia!
E LÁ TENHO
O Jasmim
Mesmo ao lado do
Loureiro...
.................
Respiro fundo
Até à alma
E torno-me
Jardineiro!
E ASSIM EU VOU
Vivendo
No jardim da
Minha vida
Em poemas
E pintura...
............
E se a dor
Não tem remédio
Que seja esta
A cura!

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Ler a poesia de João de Almeida Santos é sempre um desafio estético prazeroso. Comparando o poema intitulado Jasmim – que abre para uma semântica telúrica e bucólica, com percepções olfativas – com o poema A Chave – que abre para uma semântica de descoberta e de mistério – , há em ambos os poemas uma mestria da arte de fazer poesia.
Na composição poética Jasmim, emerge, discursivamente, um cruzamento semântico-lexical que faz uma simbiose entre a cor e a palavra entre o Poeta e o Pintor. A polaridade sensorial e sensitiva contamina o território subjectivo e subjectivado que invade o sujeito poético. A profusão telúrica e bucólica (“floresceu o jasmim; o loureiro”, …) mistura-se, harmoniosamente, com o acto criador (“FLORESCEU O JASMIM!/Dele jorra Poesia”). Estes versos, a par de outros, criam geografias íntimas de autorealização artística para o Poeta e para o leitor. A aposta nas rimas toantes revela uma mestria na busca da harmonia musical que se consubstancia na aliteração reiterada na vogal i em rimas agudas e graves. Também no poema A Chave, cujo definido particulariza e individualiza o objeto, o leitor é conduzido à decifração de um sentido materializado no verso: “Canto e pinto”. Deste modo, a metaforizada mîse em abîme destes dois poemas – com títulos polissémicos mas, aparentemente, tão díspares – completa o sentido de um sujeito poético que procura a harmonia verbal, léxica e cromática, inspirada e inspiradora:
E ASSIM EU VOU
Vivendo
No jardim da
Minha vida
Em poemas
E pintura…
(…)
LEVO PALAVRAS
Comigo,
Procuro inspiração.
Levo cor,
O meu abrigo,
Levo musas
E tudo o mais…
Obrigado, Professora Maria Neves. Mais uma vez os meus poemas ganham mais sentido depois da sua análise. Sim, procuro a simbiose: a semântica, a música, a cor numa espiral que procuro induzir na aproximação estética à minha proposta. Agora a pintura ajuda ainda mais a este processo, porque a construção é simultânea. Vê-lo-á com muita clareza na minha proposta de amanhã – “Nostalgia”, em poema e em pintura, o mesmo título -, dia 24.06, precisamente o dia de S. João, o nostálgico. Mas, já aqui, o perfume intenso do jasmim que embriaga e nos projecta para esfera da fantasia que evoca e invoca em tons esfumados e incertos… ma non troppo! Mais uma vez obrigado. Um abraço.
Professor, neste Poema não consigo visualizar a Ilustração.
Mas permita-me afirmar também a beleza deste texto. Como, aliás, todo o entorno que sempre existe à volta de um Jasmim!… E, do mesmo modo, o Poema irradia beleza e aroma sem fim…!
Lindo lindo.
Muito obrigada!
Com estima, fernanda