PINTO-TE COM PALAVRAS!
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Chakra”. Original de minha autoria para este poema. Janeiro de 2019.

Chakra. Jas. 01-2019
POEMA – “PINTO-TE COM PALAVRAS!”
TU PINTAS-ME... Eu bem sei, Gastas a alma Na cor E nos riscos Que te fazes Para assim Me compor, Elevar em Catarsia, Parar a dor Que te canto, Choro triste, Poesia. “- E TU CANTAS Meus pobres Traços, Euforia De paisagens, Rostos perdidos No tempo, Cores que Tapam A tristeza De te perder Para sempre Como minha Melodia”. SIM, EU CANTO Todas as cores Com que te pintas A vida, O que te nasce Das mãos Sempre já em Despedida... E CANTO As minhas dores Com essas palavras Gastas Que são como Os sabores Com que tempero O destino De ti sempre Tão ausente Como laico Do divino! SIM, EU CANTO A vida Sem a tinta Que é, afinal, Um desejo... Flui-te das mãos, Expõe-te a alma (Um lampejo!) Ao poeta Que te pinta Em versos Como cometa Que nasce E morre Consigo Como frágil Borboleta Que perdeu O seu abrigo... PORQUE DESENHAS A alma Com silêncio Que tu logo Cobres De tinta P’ra que eu já Não te veja Em meus versos Enganados E, assim, Já não te minta... MAS EU VEJO-TE Sempre Num poema Para além da Tua cor, Por isso vivo Em dilema: Sou poeta ou Pintor? SE TE PINTO, Cubro O silêncio De cor, Se te canto Sou eu mesmo... .............. Um poeta, Fingidor!![]()
Representa o espírito de Dharmachakra, o estado da vida em roda viva, sempre em mudança. É o que Budha caraterizou com a expressão “anicha, anicha”! ( tudo muda, tudo muda). Define a realidade contingente.
O poema e a ilustração – que o acompanha – abrem para um sortilégio poético e para uma miríade cromática onde as cores quentes dialogam com lexemas de amor expresso em versos. A polissemia dicotómica Poeta/Pintor é, assim, cantada:
“MAS EU VEJO-TE
Sempre
Num poema
Para além da
Tua cor,
Por isso vivo
Em dilema:
Sou poeta ou
Pintor?”
A interrogação, deixada em suspenso, convoca um horizonte de leitura, cujos interstícios da linguagem habitam um imaginário amoroso (quiçá passional) do sujeito poético que se balanceia (e move) entre o real e o fingimento:
“SE TE PINTO,
Cubro
O silêncio
De cor,
Se te canto
Sou eu mesmo…
…………..
Um poeta,
Fingidor!”.
As interpelações dicotómicas, recorrentes neste poema (laico vs divino; poeta vs pintor; nasce vs morre; silêncio vs melodia…), traduzem a génese e o labor literário desta bela poesia rimada, ritmada, musical e pontuada com expressividade semântica (as reticências, a interrogação, a exclamação…).
O diálogo intratextual (TU PINTAS-ME…/Eu bem sei”; “- E TU CANTAS/Meus pobres/Traços,/) – eivado de graciosas marcas de oralidade – é um grito que jorra do fundo da alma do sujeito poético à procura de uma presença fugidia e fugaz e de uma interlocução que dê sentido a uma vida desesperançada. É nesse diálogo intratextual que perpassa a transição de uma “aventura amorosa (ficcional)” para uma “aventura de linguagem” e para “uma aventura pictórica”.
LA BEFANA, di Giovanni Pascoli
Viene viene la Befana
vien dai monti a notte fonda.
Come è stanca! La circonda
neve, gelo e tramontana.
Viene viene la Befana.
Ha le mani al petto in croce,
e la neve è il suo mantello
ed il gelo il suo pannello
ed il vento la sua voce.
Ha le mani al petto in croce.
E s’accosta piano piano
alla villa, al casolare,
a guardare, ad ascoltare
or più presso, or più lontano.
Piano, piano, piano, piano.
Chi c’è dentro questa villa?
Uno stropiccìo leggero.
Tutto è cheto, tutto è nero.
Un lumino passa e brilla.
Chi c’è dentro questa villa?
Guarda e guarda… Tre lettini
con tre bimbi a nanna, buoni.
guarda e guarda… Ai capitoni
c’è tre calze lunghe e fini.
Oh! Tre calze e tre lettini…
Il lumino brilla e scende,
e ne scricchiolano le scale;
il lumino brilla e sale,
e ne palpitano le tende.
Chi mai sale? Chi mai scende?
Co’ suoi doni mamma è scesa,
sale con il suo sorriso.
Il lumino le arde in viso
come lampada di chiesa.
Co’ suoi doni mamma è scesa.
La Befana alla finestra
sente e vede, e s’allontana.
Passa con la tramontana,
passa per la via maestra:
trema ogni uscio, ogni finestra.
E che c’è nel casolare?
Un sospiro lungo e fioco.
Qualche lucciola di fuoco
brilla ancor nel focolare.
Ma che c’è nel casolare?
Guarda e guarda… Tre strapunti
con tre bimbi a nanna, buoni.
Tra la cenere e i carboni
c’è tre zoccoli consunti.
Oh! tre scarpe e tre strapunti…
E la mamma veglia e fila
sospirando e singhiozzando,
e rimira a quando a quando
oh! quei tre zoccoli in fila…
Veglia e piange, piange e fila.
La Befana vede e sente;
fugge al monte, ch’è l’aurora.
Quella mamma piange ancora
su quei bimbi senza niente.
La Befana vede e sente.
La Befana va sul monte.
Ciò che vede e ciò che vide:
c’è chi piange e c’è chi ride;
essa ha nuvoli alla fronte,
mentre sta sul bianco monte.