COMO TE VEJO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Trono”. Original de minha autoria para este Poema. Março de 2019. Para ouvir o poema pela voz do autor:

Trono. Jas. 03-2019
POEMA – “COMO TE VEJO”
COMO TE VEJO Na minha imaginação? Sentada num trono, Hierática, Sorriso formal, Parca em palavras, Muito bela, Quase irreal... ................. Como te sinto! BELEZA FRIA, Marmórea, Pele desenhada A rigor e A cinzel Por escultor Que te perscrutou A alma Desnuda Nos confins Enigmáticos Do teu ser. FICOU-TE A beleza No perfil, À superfície, Onde ainda te Vislumbro Na cíclica Neblina Do meu olhar! E CRIAS ROUPAGENS De mil cores Que descem Do trono E te gritam Ao mundo, Escondendo A solidão Da tua alma, A queda De um anjo No poço fundo De uma velada Melancolia. NÃO HÁ FUGA Possível Para o reino Das formas puras Quando falta O sopro Que anima Os voos Da fantasia Para o infinito De um espaço Sideral. MAS EU VEJO-TE Sempre Num trono Dourado Sentada na ilusão De conquista Do mundo À medida que te Vais gastando Na voragem do Tempo Que te atira Para fora A vaguear Na cidade Em busca Das formas Perdidas... ...................... Para o teu mirífico Reino. SERÃO SÓ SINAIS De fumo Que se elevam No horizonte A anunciar-te, Levados pelo vento Que te sopra Na alma, E que clamam Por atenção? AH, COMO GOSTARIA De os ler, Os sinais, Na exegese De um oráculo Promissor! MAS O TRONO Tem paredes subtis, Leves e frágeis, Tem rituais, Tem ouro E muito mais, Tem cânticos E tem vestais, Orações, Sacerdotes, Musas E catedrais... E FICA LÁ EM CIMA No Monte Onde o ar é Rarefeito E os horizontes Não têm fim Porque tocam A linha do infinito... ..................... E turbam a alma! ALGO ME DIZ Que ao trono Onde te vi Não voltarás Porque desceste Ao vale Chamada pelos arautos Das formas vazias, Apóstatas, Timoratos Da montanha Sagrada, Das vertigens E das tonturas Pela proximidade Da sideral E mágica Abóbada celeste Que nos arrebata A alma. A MONTANHA Não se deixa subir Duas vezes Na procura de inspiração, Sabias? O trono muda De cor E de oficiantes, Como se a vida Lá em cima Tivesse um único Ciclo de tempo Que não podemos Abandonar. SERÁ ESSE O TEU DESTINO? Não sei. Mas na montanha Há um trono Onde nos sentamos Uma única vez...