A JANELA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Onde te vejo”. Publico hoje, em reposição, mas juntando um poema (de Dezembro de 2017) e um quadro, ambos de minha autoria, que foram executados para momentos e referentes diferentes: “A Janela” (ligeiramente retocado) e “Onde te vejo”. Este é o único poema que, até hoje, publiquei onde o sujeito poético é uma mulher. Dadas as suas características, fortemente rimáticas, não fiz versão áudio.

“Onde Te Vejo”. Jas. 03-2019
POEMA - "A JANELA"
NOS VIDROS Desta janela Se espelha Todo o meu ser, É neles que Eu te revejo Quando deixo De te ver. DA JANELA Vejo o mundo E o mundo Vê a janela, Debruçada No parapeito Olho o céu E olho a rua Para ver Se passas nela... NOS VIDROS Desta janela Há reflexos Da vida Olho p’ra eles Pensativa E não me sinto Perdida Se puder Falar contigo Quando te vir De partida... NOS VIDROS Da minha janela Se espelha Todo o teu ser Quando passas Nesta rua E me sinto Estremecer Da falta que tu Me fazes Por ainda Não te ter. SE TE AFASTAS Da janela E vislumbro Silhueta Lá ao fundo, Longe dela, Eu sofro Por te perder... .......... É uma dor Tão profunda Que logo Se me revela. VOA P’RA LONGE Essa tua Silhueta Que s’esgueira Na esquina Como se fosse Cometa A passar Na minha rua... .............. Mas também eu Me diluo E me sinto Um pouco nua Na imagem Transparente Dos vidros Desta janela Como se fosse Já tua. FOSTE EMBORA Do meu mundo Onde eu Te queria ter Ao alcance De um olhar Para nunca Te perder... MAS NÃO DEIXEI A janela, Esperei sempre Por ti, Hora-a-hora, Dia-a-dia, Até que, por fim, Eu te vi. VI-TE Da minha janela, Desenhei-te Com alma E olhar De devoção, Pintei-te todo A vermelho Na cor da minha Paixão... ................ Mas mesmo assim Tu partiste Sem me dar A tua mão. DA JANELA Sempre te vejo, Mesmo ausente Da nossa rua, Nos vidros Fica imagem, Perfeita Como a tua, Mas é sempre Transparente E não lhe posso Tocar, Guardo-a, então, Com ternura No meu inocente Olhar. E GOSTO Da primavera, Confundir-te Com aromas Que me chegam À janela, Anunciando A chegada Do melhor Que sinto nela. A JANELA Não tem cortinas P’ra te ver Na nossa rua, Ver-te chegar E partir, Ficando um pouco Mais nua, Querer que Me vejas Assim Tão brilhante Como a Lua... AH, QUANTAS VEZES Eu desci Da janela Para a rua... ............... Olhava de baixo P’ra cima, Mas eu nela Não me via, E, assim, Não era tua. O MEU MUNDO É a janela, O da rua É o teu, É dela que Eu te vejo, Na rua Já não sou eu. DA JANELA Do meu mundo Olho p’ra ti Com calor, Sem ela Eu não te sinto, Fica um muro, Meu amor!

“Onde te vejo”. Detalhe.