AH, PASÁRGADA…
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Idílio em Pasárgada”. Original de minha autoria para este poema. Um diálogo em poesia com Manuel Bandeira (“Desencanto”; “Versos escritos na água”; “Renúncia" - Manuel Bandeira, Obras Poéticas. Lisboa, Minerva, 1956, pp. 33, 40, 101). Junho de 2019.

“Idílio em Pasárgada”. Jas. 06.2019.
“POEMA: “AH, PASÁRGADA…”
“OS POUCOS VERSOS QUE AÍ VÃO, Em lugar de outros é que os ponho. Tu que me lês, deixo ao teu sonho Imaginar como serão.” (M.B.) OS MUITOS VERSOS Que te dei Transparecem No que eu sou. Se me leres Saberás Que não pequei E que é tanto O que agora Eu te dou. “NELES PORÁS TUA TRISTEZA Ou bem teu júbilo, e, talvez, Lhes acharás, tu que me lês, Alguma sombra de beleza...” BELEZA Que desenhei Sempre contigo, Mas em tristeza E tanta dor Como castigo. EU CANTO O que perdi P’ra que o verso Vá ter contigo Lá onde estejas Queira o vento Ser meu amigo Mesmo que tu Nunca me vejas. “QUEM OS OUVIU NÃO OS AMOU Meus pobres versos comovidos! Por isso fiquem esquecidos Onde o mau vento os atirou.” NÃO OS AMOU Mas foi verdade Este amor Que aqui nasceu E que cantei Em liberdade Em versos Que o vento Já me levou Dos muros Desta cidade. OUTROS FARIA Se pudesse Para os pôr Na tua mão, Não pediria que Os sonhasses, Olhos cerrados, Mas que os lesses Por afeição. AH, MANEL, Que bem me sabe Pôr a dor Em poesia, Em versos A emoção, No cantar Triste alegria De tão intensa Ser a paixão Mesmo que seja Apenas Doce utopia Ou singela Ilusão. DIZES TU, Em poesia, Que só a dor Te enobrece. É bem verdade, Meu bom poeta, Alma dorida Logo me aquece E com seus versos Entretece O que a paixão Já tanto afecta. “A VIDA É VÃ COMO A SOMBRA QUE PASSA... Sofre sereno e de alma sobranceira, Sem um grito sequer tua desgraça. ENCERRA EM TI TUA TRISTEZA INTEIRA. E pede humildemente a Deus que a faça Tua doce e constante companheira...” POIS TENHO MEDO, Ah, meu irmão, Que a dor Me passe, Perca o poema Sua raiz, Essa, sim, A verdadeira, E eu fique só Já sem palavras E caiam secas Todas as rosas Que me povoam Esta roseira. SOBRAM ESPINHOS, Ferem-me a alma E saem versos E cai o sangue “Gota a gota, Do coração”, “Volúpia ardente” Já sem remédio “Eu faço versos Como quem chora” E chamo a dor Naquela hora E ela vem Por compaixão! AH, POETA, Ah, meu irmão, Tu fazes versos “Como quem morre” E eu procuro Neste meu canto O seu perdão. TU, MANEL, És o poeta E a bandeira E ela é O meu refrão, P’ra mim és verso No meu poema E ela é, Na minha alma, Esta paixão!

“Idílio em Pasárgada”. Detalhe.