Poesia-Pintura

TARDO A ENCONTRAR-TE

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Mulher, 
a Janela e o Espelho”.
Original de minha autoria.
Outubro de 2021.
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“A Mulher, a Janela e o Espelho”. JAS. 10-2021.

POEMA – “TARDO A ENCONTRAR-TE”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema
Com as asas
Do desejo...

NÃO É A VONTADE, NÃO,
Mas o destino a marcar
Os passos que
Eu darei
Ou que nunca
Ousarei
Nesta estreita
Vereda
Da minha vida.

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes por onde
Andei
E me perdi,
À procura do que
Não podia ter
Pra preservar
O que apenas
Me sobrava...
...............
Dentro de mim.

ÀS VEZES
Encontrava-te...
Encontros fugazes
Onde o teu brilho
Cegava
Por fora
E me iluminava
Por dentro...
...............
E cantava-te
E pintava-te a alma
Com palavras roubadas
Ao arco-íris.

MAS NÃO SEI
Se te hei-de querer
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades,
Logo ao amanhecer,
Do perfume 
Da aurora,
Quando te reencontrava
Na memória fresca
E matinal
Dos afectos 
Indefinidos
De outrora,
Os mais perfeitos
E contidos.

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos do destino,
Bem sabes,
Mas há sempre
Um súbito
Sobressalto
Quando o real
Me atropela
Por dentro
E tudo se torna
Inóspito...

MAS SE NÃO 
Me deixo ir
Por aí,
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
De um espelho onde
Me veja por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
................
Que nunca demora.

AH, COMO ME FALTA
Esse véu que te cobre
Quando te quero
Pintar com palavras
E te vejo
Nua,
Com a alma a tiritar,
À mercê dos sobressaltos
Que te marcam
Como sulcos,
Cicatrizes ásperas
Da vida.

MAS EU PROCURO-TE
Com disfarçado
E tímido
Olhar,
Perscrutando
A alma
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Sofrem, sim,
 Mas cantam
Quando sentem a
Liberdade
Ali por perto.

TALVEZ A NOITE
Te sirva de véu
E te cubra 
As cicatrizes
Da vida,
Luz coada pela
Penumbra
Que te amacia
A pele
Encrespada
E te devolva como
Sonho
Acetinado
Onde reinventar-te
Como mulher
Desejada,
Para além do bem
E do mal,
Para além do pecado.

MAS EU NÃO SEI,
Tenho medo
Dos sobressaltos,
De ser atropelado
Na esquina de um
Inocente
Jogo sedutor
Que te cative a
Alma
Já em fuga
Para o infinito
Que, ao longe, 
Se cruza
Nos nossos olhares...
..............
Intermitentes.

TARDO A ENCONTRAR-TE
No bulício dos nossos
Dias,
Até que no amanhecer
De um poema
Te volte a visitar
E te diga,
Com olhar
Submisso:
"Ah, que saudades
Eu tinha de ti..."
Mas talvez já seja
Tarde demais.

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