O SILÊNCIO E A MEMÓRIA
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “O Voo da Rosa”. Original de minha autoria. Novembro de 2021.

“O Voo da Rosa”. Jas. 11-2021
"Para que tú me oigas / mis palabras / se adelgazan a veces /como las huellas de las gaviotas en las playas" Pablo Neruda
POEMA – “O SILÊNCIO E A MEMÓRIA”
NO TEU SILÊNCIO Profundo Entrevejo-te Com palavras Sufocadas, A preto E branco, Com a linguagem Do tempo Que passa Inexorável E erode A suave Geometria Dos traços Com que nos fomos Desenhando Nos dias De festa. E, AGORA, SOBREVIVO, Oblíquo, Neste intervalo Sofrido De onde Vislumbro A tua silhueta Esculpida Pelo crepúsculo De um fugaz Encontro De despedida. “VOU-ME EMBORA Pra Pasárgada”, Diria o saudoso Poeta, “Porque aqui Anoiteceu”. MAS, NÃO, Desta vez Eu não parto, Porque na memória Dos teus Mil rostos Posso ver-te a cores, Aquelas com que Te evadias Em cúmplice Caminhada À procura Do belo... .......... E em troca De nada. NESTA MEMÓRIA Acaricio-te, Em epifania, Com as mãos Invisíveis Da alma E o azul Do céu Que ainda Me sobra Como manto Transparente Da minha Fantasia. PRESSINTO-TE, Adivinho-te Em riscos que Deslizam Dos teus dedos, Dádivas Que me chegam Como brisa Do amanhecer Na praia Da meia-lua. E ESTREMEÇO Quando Te reencontro Nestas veredas Estreitas Da fantasia Com que Te vou reinventando... .............. Com insuspeita Teimosia. VISTO-ME, ENTÃO, De vermelho, Por dentro, A rigor, Solene, E pinto-me A alma Ao sabor do vento, Cubro de rosas Vermelhas O chão etéreo Por onde caminho Suavemente Com o olhar, Dou mais sabor À liberdade, Voando com Uma rosa Pra te poder Alcançar. AH, SIM, Duplico-me Neste intervalo Onde te sonho E te canto Com palavras Que te chegam Desfiguradas Pelo siroco que, No trajecto, Sopra forte Nas ásperas areias Deste deserto Que habitamos. SIM, MAS SE A BRISA Do mar Ainda me acaricia O rosto No amanhecer De cada poema Que me importam A areia E o deserto?