PRESSENTIMENTO
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Travessia”. Original de minha autoria. Outubro de 2022.

“Travessia”. JAS. 10-2022
POEMA – “PRESSENTIMENTO”
MAIS UMA VEZ, Ao entardecer, Te pressenti, Numa rua de Lisboa... .................... Mas não te vi. AH, ESTA LISBOA Que amas... .................. Uma silhueta fria Na cidade, Uma travessia, Um homem Que passa, Perdido Em memórias Que se esfumam No tempo E deixam A alma vazia. DEUS EX MACHINA Que desce No caos Em que a vida Se tornou, Nos afectos E na dor... ............... Para pôr ordem Nas desordens Do amor... CAÍSTE-ME, Como num palco Ou numa encruzilhada Improvável, Quando vinha Da imensa planície Onde os deuses Se anunciam No horizonte A cada amanhecer... UM SÚBITO CLARÃO, Um sobressalto... E eu estremeci. Irrompeste, Intempestiva, Das brumas Da memória... .......... Mas apenas Te pressenti. INCAUTO, Aproximei-me Do teu mundo, Sem saber? Foi o destino, Adormecido Que andava De nunca, Mas mesmo nunca, Te rever? ESTRANHOS Desencontros Que desabam Sobre nós, Com os astros A governarem O labirinto Insondável Das nossas vidas. SILHUETA FUGIDIA, É o que és, Nesta longa Travessia, Neste ver-te De través, Nesta minha Liturgia. VI UM NÚMERO, A única certeza Que tenho, Mas incerto Como todos Os números Deste "mundo Inumerável". INCERTO, SIM, Porque tu Não és número Que me dê Certezas, Para além da dor... .............. És mais quatro Do que sete, Meu amor. TALVEZ TENHA SIDO A minha fértil Imaginação, Já um pouco doentia, A cruzar-se Contigo Num inesperado Lance de magia. MAS NEM SEI Se é por ali Que tu andas, Porque de ti Nada sei, Só o que me sobrou Daquele tempo E do tempo Que criei Para nunca Te perder, A história Que te conta Para nela Renascer. QUE ESTRANHOS Lugares de Desencontro, No meio da multidão, Um instante Que irrompe Quente Como lava De vulcão, Um regresso Improvável Cada vez mais Espectral Em película subtil E transparente De memória Outonal! AH, COMO NO FIM Deste poema Sofro a falta Desse olhar A iluminar-me A alma De ternura, Mas nem o sol Se descobre, O acende E o inunda De beleza Da mais pura...

“Travessia”. Detalhe.