Poesia-Pintura

ENCONTROS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Onírica Nudez”
Original de minha autoria (sobre
foto, anónima, em contraluz, da 
minha colecção privada).
Outubro de 2022.
Corpo2022_10_16

“Onírica Nudez”. JAS. 10-2022

POEMA – “ENCONTROS”

TARDO A ENCONTRAR-TE
Porque já não sei
Como procurar-te
Levado
Por um poema...

NÃO É VONTADE
Decidida,
Mas destino que marca
Os passos que
Darei
Na estreita
Vereda da vida...
...............
Ou aqueles que
Eu nunca ousarei...

E TU SABES
Que não sei,
Mas sabes
Por onde andei
E por onde
Me perdi
À procura
Do que não
Queria ter
Para preservar
O que o tempo
(Ah, sempre o tempo)
Haveria de 
Esculpir
E em meus
Poemas
Guardar.

UM DIA
Encontrei-te
No fim de um caminho
Que já nem sei
Se trilhei
Antes de qualquer
Início
Ou se o abandonei
Como se fora
Vereda fatal
De um tentador
Precipício...

ÀS VEZES,
Reencontrava-te, sim.
Encontros fugazes,
Onde o teu brilho
Começava a cegar
Por fora,
Mas a iluminar
Por dentro...
..............
Para te poder
Cantar.

MAS JÁ NÃO SEI
Se te hei-de querer
Para nunca
Te ter,
Sentir saudades
Ao amanhecer
Do teu perfume
Na memória fresca
Dos afectos
Indefinidos,
Os mais perfeitos
E sentidos.

SIM, DEIXO-ME IR
Nas mãos lentas 
Do destino,
Mas há sempre
Um sobressalto
Quando o real
Nos atropela
Por dentro
E tudo se torna
Inóspito...
.........
Por fora.

SE NÃO ME DEIXO IR
Viajo para outros
Lugares,
Tenho sempre
De viajar
À procura de mim,
Dum espelho onde
Me veja por dentro
A olhar-te
Por fora,
À espera do próximo
Sobressalto...
.................
Que nunca demora.

AH, COMO ME FALTA
Esse véu
Que te dissimula
O rosto
Quando te quero
Pintar com palavras
E logo te vejo
Nua,
Com a alma
A tiritar...

MAS EU CONTINUO
A procurar-te
Com disfarçado
E tímido olhar
(Como quem
Não te quer),
Perscrutando-te,
Na memória,
A alma pura
Que se aninha
Em ti
Para te proteger
Do risco da beleza
Exposta
Como fractura,
Aquela que os poetas
Cantam
Quando sentem a
Liberdade
Por perto.

TALVEZ A NOITE
Te sirva de véu
E te cubra as cicatrizes
Da vida,
Luz coada
Pela penumbra
Que te amacie
A pele
Encrespada e
Te devolva como
Sonho
Acetinado
Onde te reinventarei
Como mulher
Desejada...
.................
Para além do bem
E do mal.

MAS EU NÃO SEI,
Tenho medo
Dos sobressaltos,
De ser atropelado
Na esquina de um
Inocente
Jogo sedutor
Que te cative a
Alma em fuga
Para o infinito
Que se cruza
Nos nossos olhares...
..............
Cada vez mais
Intermitentes.

E AGORA TARDO
Outra vez
A reencontrar-te
No bulício dos
Meus dias
Até que no amanhecer
De um poema
Perfumado
Te surpreenda
De novo
Simplesmente nua
E te diga,
Com olhar submisso:
"Esta visão matinal
É o sonho revelado
De um poeta-pintor
Que nunca ousou
Desenhar-te
Como prova
(Não provada)
De seu tão incerto
(E obstinado)
Amor..."

Corpo2022_10_16Rec

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