ENCONTROS
Poema de João de Almeida Santos. Ilustração: “Onírica Nudez” Original de minha autoria (sobre foto, anónima, em contraluz, da minha colecção privada). Outubro de 2022.

“Onírica Nudez”. JAS. 10-2022
POEMA – “ENCONTROS”
TARDO A ENCONTRAR-TE Porque já não sei Como procurar-te Levado Por um poema... NÃO É VONTADE Decidida, Mas destino que marca Os passos que Darei Na estreita Vereda da vida... ............... Ou aqueles que Eu nunca ousarei... E TU SABES Que não sei, Mas sabes Por onde andei E por onde Me perdi À procura Do que não Queria ter Para preservar O que o tempo (Ah, sempre o tempo) Haveria de Esculpir E em meus Poemas Guardar. UM DIA Encontrei-te No fim de um caminho Que já nem sei Se trilhei Antes de qualquer Início Ou se o abandonei Como se fora Vereda fatal De um tentador Precipício... ÀS VEZES, Reencontrava-te, sim. Encontros fugazes, Onde o teu brilho Começava a cegar Por fora, Mas a iluminar Por dentro... .............. Para te poder Cantar. MAS JÁ NÃO SEI Se te hei-de querer Para nunca Te ter, Sentir saudades Ao amanhecer Do teu perfume Na memória fresca Dos afectos Indefinidos, Os mais perfeitos E sentidos. SIM, DEIXO-ME IR Nas mãos lentas Do destino, Mas há sempre Um sobressalto Quando o real Nos atropela Por dentro E tudo se torna Inóspito... ......... Por fora. SE NÃO ME DEIXO IR Viajo para outros Lugares, Tenho sempre De viajar À procura de mim, Dum espelho onde Me veja por dentro A olhar-te Por fora, À espera do próximo Sobressalto... ................. Que nunca demora. AH, COMO ME FALTA Esse véu Que te dissimula O rosto Quando te quero Pintar com palavras E logo te vejo Nua, Com a alma A tiritar... MAS EU CONTINUO A procurar-te Com disfarçado E tímido olhar (Como quem Não te quer), Perscrutando-te, Na memória, A alma pura Que se aninha Em ti Para te proteger Do risco da beleza Exposta Como fractura, Aquela que os poetas Cantam Quando sentem a Liberdade Por perto. TALVEZ A NOITE Te sirva de véu E te cubra as cicatrizes Da vida, Luz coada Pela penumbra Que te amacie A pele Encrespada e Te devolva como Sonho Acetinado Onde te reinventarei Como mulher Desejada... ................. Para além do bem E do mal. MAS EU NÃO SEI, Tenho medo Dos sobressaltos, De ser atropelado Na esquina de um Inocente Jogo sedutor Que te cative a Alma em fuga Para o infinito Que se cruza Nos nossos olhares... .............. Cada vez mais Intermitentes. E AGORA TARDO Outra vez A reencontrar-te No bulício dos Meus dias Até que no amanhecer De um poema Perfumado Te surpreenda De novo Simplesmente nua E te diga, Com olhar submisso: "Esta visão matinal É o sonho revelado De um poeta-pintor Que nunca ousou Desenhar-te Como prova (Não provada) De seu tão incerto (E obstinado) Amor..."