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Sobre joaodealmeidasantos1

Professor universitário, escritor, poeta, pintor. Publicou várias dezenas de livros, seus e em co-autoria, de filosofia, política, comunicação, romance, poesia, estética. Foi professor nas universidades de Coimbra, Roma "La Sapienza", Complutense de Madrid e Lusófona (Lisboa e Porto). Publica semanalmente, neste site, ensaios, artigos, poesia e pintura.

Poesia-Pintura

O BEIJO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "O Beijo". Original
de minha autoria para este poema.
Seis de Julho: “Dia Internacional
do Beijo”. Inspirado em
"Lotte in Weimar" (1939), de
Thomas Mann, a obra que continuou
"Werther" (1774), de Goethe, e no
meu Romance "Via dei Portoghesi".
Seis de Julho de 2024.
O_Beijo060722Corte

“O Beijo”. JAS. 06-07-2024

LEITMOTIV

“O amor é o melhor na vida,
assim, no amor, o melhor é o beijo –
Poesia do amor...”. “Beijo
é alegria, procriação é luxúria”
Thomas Mann

INSPIRADO TAMBÉM EM:

“Os beijos escritos
não chegam ao destino,
mas são bebidos pelos
fantasmas ao longo
do trajecto”
Kafka
“Se para te beijar devesse,
depois, ir para o inferno,
fá-lo-ia. Assim, poderia
vangloriar-me, com os diabos,
de ter visto o paraíso
sem nunca lá ter entrado”
Shakespeare
“O primeiro beijo não é dado
com a boca, mas com os olhos”
Bernhardt

POEMA – “O BEIJO”

BEIJO FOI
O que nunca
Te dei
A não ser
Com o olhar...
O primeiro,
Esse beijo,
Dei-to, pois,
Sem te tocar.

E DEI-TE MAIS,
Com palavras,
Quando olhar
Já não podia,
Foste embora,
Apressada,
E, assim,
Eu não te via.

FORAM BEIJOS
Que sonhei
Na triste rotina
Dos dias,
Desejos
Que enfrentei
Quando tu mais
Me fugias.

AGORA DOU-TE
Beijos
Escritos
Que se perdem
No caminho,
Mas se o poema
Me falta
Fico ainda mais
Sozinho.

O BEIJO
É emoção,
É razão
Descontrolada,
Se não o dermos
A tempo
Pouco mais
Será que nada.

SEM BEIJO
Não há amor,
Sem amor
Perde-se o beijo
E perde sentido
A vida
Quando falta
O desejo...

POR ISSO
O lanço
Ao vento
Pra que chegue
Como brisa
E suave melodia
A quem de afecto
Precisa
Em modo
De poesia.

ESSE BEIJO
Que me faltou,
De que nunca
Fui capaz,
Voa pra ti
Em palavras
Na sua forma
Mais pura
Para que no seu
Trajecto
Voe, voe
A grande altura
E fantasmas
Não o bebam
Enquanto seu
Voo dura.

MAS SEI
Dos escolhos
Da via,
Dos perigos
Que ele corre,
Capturado
Por fantasmas
É um beijo
Que me morre.

O BEIJO
Que não te dei
Foi pecado
Original,
Ficou perdido
Na alma
Como chaga
Corporal

MAS NESTE DIA
Do beijo
Eu canto
A poética
Do amor
Pra me redimir
Dessa falta
Com palavras
Desenhadas
Com a arte
Do pintor.

E PORQUE
O dia é teu
Ganha força,
Intensidade,
Mesmo que
Fantasmas
O bebam
Este é
Um beijo meu,
É um beijo
De verdade.

NÃO HÁ PALAVRAS
Que bastem
Pra repor
O que não dei,
Elas voam,
Mas não chegam...
..............
E mesmo assim
Eu tentei.

É CERTO
Que sempre
O quis,
Só que nunca
To roubei,
A culpa foi
Desse tempo,
Dos dias em que
Te amei,
Um tempo
Em diferido,
Sem presente
Nem futuro,
Talvez beijo
Sem sentido
Porque queria
Do mais puro,
Tangendo eternidade
Às portas
Do Paraíso,
Um beijo
De divindade,
Mas simples
Como um sorriso.

ESSE BEIJO
Impossível
Que não é do
Foro humano
Vou tentando
Construí-lo
Cada dia,
Cada ano,
Perdendo-me
Pelo caminho
Como sagrado
Em profano.

O BeijoRec

Artigo

FRAGMENTOS (XIII)

Para um Discurso sobre a Poesia

João de Almeida Santos

Parnaso2024Final

“Palácio das Artes no Monte Parnaso”. JAS. 07-2024

A ARTE E A VIDA

A PROCURA DO BELO não é casual, desinteressada, técnica, mas responde a uma exigência interior. Quer de quem produz quer de quem frui. Bem sei que os artistas sempre fizeram obras por encomenda. Por exemplo, sobre motivos religiosos. E que têm de sobreviver. Mas, na essência, a arte, e em particular a poesia, resulta de um encontro sofrido com o mundo ao qual ela procura dar resposta num plano superior, recriando-o com a sua linguagem. A arte não está confinada no virtuosismo. Na habilidade de execução. É mais do que isso. A escolha originária do caminho da arte responde, sim, a um imperativo interior. É nesta decisão que reside o essencial. E até diria que ela também resulta de um compromisso existencial.

A ARTE E A DOR

A arte suspende, provisoriamente, as dores da vida, pois ela atinge o plano mais elevado da própria humanidade. Desprende-se do contingente e da sua rugosidade para se elevar ao plano do sublime onde não encontra corpos rígidos e opacos onde embater e de onde resulta sempre dor. Mas não se trata de uma fuga, porque ela, a arte, incorpora a dor, embora a transfigure, a estilize, a verbalize (no caso da poesia), dominando-a com as formas com que a exprime. A dor como que fica encapsulada numa esfera de cristal. Está lá, mas perdeu a rugosidade, as arestas que ferem. E tem luz refractada. É claro que a sua presença gera sempre uma certa melancolia, mas é uma doce e luminosa melancolia. Lá no alto do sublime a viagem é suave e convida à contemplação. Mas para lá chegar sobraram dores, suor e lágrimas. E também fantasia, tecnicidade e inspiração. Tudo isto dá um poder imenso à palavra poética, pois ela aveluda a rugosidade e converte a contingência em universalidade, promovendo uma feliz e luminosa partilha em comunidade, a de todos os que nela sentem o que um dia sentiram.

ARTE E PREDESTINAÇÃO

Predestinação? O poeta nasceu para um dia estremecer perante a visão da musa e receber como dádiva o estro… para a cantar. Um dom, uma missão e um “castigo”. Subir sempre, qual Sísifo, ao Monte Parnaso, carregando palavras que hão-de ser presentes a Apolo para serem convertidas em canto, em poesia. Mas nem todos são admitidos à presença de Apolo ou sequer a subir ao Parnaso. Elevar-se sobre a dor não é para todos. Não se herda nem se adquire através do estudo. É um dom. Uma graça recebida. Um destino traçado e marcado pelos deuses. A que o poeta fica submetido. É por isso que a vida de poeta não é fácil.

O DESTINO DOS POETAS

O deus é Apolo. O poeta sente, sofre, sente-se náufrago nesse mar alteroso da vida. E pede ajuda aos deuses para que o libertem desse destino infausto do fracasso. Os deuses são exigentes, mas dão-lhe a oportunidade de ir ao oráculo do Parnaso ouvir vozes e colher inspiração. E, então, ele vai por aí, como Sísifo, carregando palavras para que no Monte ganhem sentido, sem saber qual será o desfecho final das caminhadas em subida. Suspeita que não terão fim, mas não sabe. Por isso, tem de subir e descer constantemente o Monte até que os deuses determinem um final. Se determinarem. É o destino dos poetas. Porque entraram num mundo que é maior do que eles. Mesmo assim, e por esse mundo ser o que é, eles podem dizer, como Giacomo Leopardi, que “il naufragar m’è dolce in questo mare” (“L’Infinito”).

MULHER-NUVEM

No certo poema, “Nuvem”, fala-se de uma mulher-nuvem que o poeta vê com nitidez com o olhar da alma. O pintor oferecera-lhe silhuetas trazidas do jardim das cores, materializando, de certo modo, o que o poeta vê nas nuvens, estimulado pela pulsão que o leva a procurar a musa nos céus do desejo. É intensa a luz dos seus olhos negros flamejantes que lhe iluminam o corpo, que ele vê com nitidez, vagando nesses territórios intangíveis da memória dos afectos. Também o poeta poderia dizer o mesmo que um Amigo lhe disse: “o que eu demorei para aqui chegar!”. Mas tinha mesmo de chegar, nesse excesso de palavras com que sempre a procura, onde a interpela e onde, qual divã, a traz à palavra expressa e à luz da consciência. Onde a verbaliza. Onde lhe dá vida e a coloca ali, perante si, para, seduzido e sedutor, a olhá-la nos seus olhos negros e, assim, atravessando a imensa fronteira da ausência e do silêncio, entrar em doce e luminosa melancolia poética.  E em diálogo com ela. O poeta antecipa nestes andamentos o que julga que o senhor e príncipe do espaço e do tempo um dia lhe trará: a atenção da musa aos seus cantos. A verdade é que ele canta como se ela o esteja a ouvir, submetendo-se aos desígnios do destino e sabendo que também ela estará sujeita a ele, ao destino. Sai de si, entrega-se ao vento que passa e deixa que o seu canto a seduza quando os deuses o acharem e se o acharem oportuno. Entra num mundo que já não lhe pertence e onde as leis são ditadas por Apolo, por Athena e, claro, por Aphrodite. O que possa um dia acontecer será simplesmente por partilha, já impessoal, a da comunidade dos amantes do belo. Mas, ainda do lado de cá, ele sente-se realizado por poder participar num sofisticado processo que é maior do que ele. E cujo desfecho fica entregue ao destino. A sensação que invade o poeta é a de missão cumprida… por momentos.

O POETA E O PECADO

Mereces sempre a minha atenção, mesmo quando não me adjectivas com qualificações certeiras – foi o que um dia disse a um Amigo que me comentava um poema. Sim, continuei, o que me dizes é verdade: as mãos pecaminosas do poeta são as palavras. É com elas que quer acariciar o rosto intangível da musa. É com elas que a olha de frente e procura seduzir esses seus olhos negros, que são a luz do seu corpo. É com elas que quer acariciar suavemente a sua pele, o seu corpo, a sua alma. E nunca se trata somente de pura fantasia, embora, como esse Amigo lhe dizia, ela como que se dilui ou dissimula no eu lírico do poeta. É recriação e responde ao seu desejo. O ser recriado é como que o resultado, por um lado, do desejo, uma sua projecção, e, por outro, da figura da musa, gravada na memória activa dos afectos. Tudo se passa como se o poeta estivesse perante a moviola: quando o poeta lá vai é como se revisitasse o filme da sua vida. Para depois o contar com a arte da palavra. A Yourcenar/Michelangelo dizia que o amante recriado pela arte era plus beau que soi-même. Sim, um desejo tão intenso tem mesmo de dar origem à superação  da realidade. A arte acrescenta valor ao real, valor estético. E é por isso que é poderosa e sedutora. E tem poder de resgate. Sim, são muitos os adjectivos que podem ser utilizados para descrever esse complexo que intervém na composição poética. São muitas coisas ao mesmo tempo, tudo a funcionar em simultâneo. A música intensifica-se somente na parte final da composição, como não poderia deixar de ser. Como que anima e veste todo o poema, reforçando o seu poder de impacto sensorial. É ela que dá força performativa ao poema.

SENSUALIDADE

Sobre a sensualidade poderia dizer o seguinte: é sempre algo que mexe com o pudor  do poeta e que ele “arranca sempre a ferros”, no poema. É uma fronteira tão sensível e delicada que ele tem receio de a atravessar, expondo a sua intimidade, embora seja sempre atraído por ela. Mas, quando a pulsão é mais forte, ele deixa-se ir. Não resiste. E diz: “que se lixe o pudor”. É um acto de liberdade. A que tem direito. A performatividade atinge aqui o seu zénite.

PRIMUM CARMINA FACERE DEINDE PHILOSOPHARI

Eu creio que dizer em poesia é mais difícil, complexo e delicado do que dizer em prosa. Também interpretar a poesia é mais difícil, complexo e delicado do que interpretar a prosa. Por uma simples razão: a poesia não descreve, é acção, é lamento ou grito de alma, é sangue, é volúpia ardente, tristeza esparsa, remorso vão. E dói nas veias, é amargo quente, angústia rouca e os versos caem gota a gota do coração. O poeta escreve os seus versos “como quem morre”. É isto o que diz o grande Mestre Manuel Bandeira, no poema “Desencanto”. Para entender a poesia é, pois, preciso sentir, sofrer, como quem grita a dor que o poeta sente, fazendo-a espontaneamente sua. Em boa verdade, nem se trata bem de entender, mas sim de partilhar, de sintonizar. Pelo contrário, entender o que se diz sobre a poesia talvez seja mais fácil, ainda que esta escrita quase sempre deslize para o verso e, às vezes, quase também caia gota a gota do coração. Como dizia o Edgar Allan Poe, os poetas falam melhor da poesia do que os que simplesmente a analisam. Porque a sentem por dentro. Porque têm como que um dispositivo natural (ou mesmo adquirido, quando estremeceram por uma visão “demolidora” da sua sensibilidade) que regista o que outros não conseguem registar. Entender a poesia através de um discurso fragmentado e fragmentário, vindo de alguém que se interpreta a partir de um ponto exterior a si, enquanto poeta, mas sem deixar de o ser no próprio acto dessa escrita fragmentária, talvez seja possível e até desejável, embora aqui se trate de uma duplicidade perigosa porque demasiado comprometida. Palavras em causa própria. Pelo menos, salva-se a dimensão dionisíaca ou pulsional do exercício discursivo. A verdade é que a mãe desta prosa, vinda de poetas, acaba por ser sempre a poesia. Mesmo que se corte o cordão umbilical, a filiação e a matriz estão lá sempre, continuam… até como património. Eu, quando me comento, procuro sintonizar comigo próprio, enquanto poeta. E quando pinto também. Talvez exagere, ao dizê-lo, mas sinto-o: a poesia é a madre de todalas as artes e até mesmo “a mais filosófica de todas as formas de escrita” (Aristóteles, segundo E. A. Poe). E diria, ainda, glosando a frase atribuída habitualmente a Thomas Hobbes: primum carmina facere deinde philosophari. Ou: no princípio era a poesia (o verbo poético). Prima furon i versi, glosando Galileo Galilei (“prima furon le cose”). É assim. Talvez seja assim.

FRUIR A BELEZA

Sim, essa prosa fragmentária sobre a poesia distancia mais do que a própria poesia, para quem a lê (e não tanto para quem escreve, enquanto poeta), porque coloca o leitor numa posição exterior à de fruidor directo de beleza, da dor esteticamente convertida, estilizada e sensitivamente partilhada. É isso, creio. JAS@07-2024

XIVImagem

Poesia-Pintura

O TEMPO E A PALAVRA

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Palavras Deslaçadas”
Original de minha autoria
Poema inspirado numa 
pequena poesia de
Luciana Stegagno Picchio
Junho de 2024
Jas_Palavras2024Final3

“Palavras Deslaçadas”. JAS. 06-2024

(...) La vita che è stata   
un istante come un fumo  
scolora
e solo le parole creano il passato"
  
“Lotofagi”, 
In Luciana Stegagno Picchio, 
La Terra dei Lotofagi, Milano, 
Vanni Scheiwiller, 1993: 35

POEMA – “O TEMPO E A PALAVRA”

POR ESTRANHO
Que pareça
Já não me
Lembro
De ti,
Do teu corpo,
Do teu rosto,
Do que sempre
Neles vi,
Dos olhos
Negros,
Profundos
Que um dia
Abracei
E que no tempo
Perdi.

JÁ NÃO ME LEMBRO
De ti,
Apenas tenho
A imagem
Do que aos outros
Transmiti
Com palavras
Desenhadas
E do que nelas
Revi.

AGORA
És feita
De presentes
Vividos
Em ausência,
Em versos
Rimados
Ao sabor
Da melodia
Que trauteio
Em surdina
Nas quentes
Pautas
Desta minha
Fantasia.

OLHO-TE
Nos olhos
Quando desenho
A tua alma,
Não com riscos
Ou com cores,
Mas com palavras
Sofridas,
Já gastas,
Deslaçadas
Pelo tempo
Que passou,
Por emoções
Proibidas.

A VIDA QUE FOI
Esfumou-se
Num instante
Do passado
Já distante,
Esse tempo
Que perdi,
Mas com palavras
A trouxe
Pra reviver
Essa vida
Nos poemas
Que escrevi.

E É ASSIM
Que permaneces,
Em versos
Bem desenhada,
Hoje e sempre,
Sempre aqui,
A forma
De conservar
Esse tempo 
Que contigo
Eu vivi.
Jas_Palavras2024FinalRec

“Palavras Deslaçadas”. Detalhe

Artigo

FRAGMENTOS (XII)

Para um Discurso sobre a Poesia

João de Almeida Santos

Oraculo2023_1805

“Oráculo”. JAS. 06-2024

RECUSA OU FALA DA MUSA?

HÁ SEMPRE UMA HISTÓRIA que inspira o poeta. Algo que a sua sensibilidade registou. De certo modo, as histórias são sempre também suas. Porque as assume poeticamente como suas, como expressão do seu sentir ou mesmo como grito de alma. Precisamente porque algo fez disparar a sua sensibilidade. Há silêncios, há palavras trocadas, “intensities” evocadas, há interpretação do silêncio (recusa ou a fala da musa?), há o seu eco nas palavras do poeta… Mas de nada vale perguntar-lhe sobre “estados de facto”, sobre referentes, porque a resposta será sempre a mesma. E isso não importa, porque o que importa é o que a sensibilidade registou e a fantasia recriou. É essa a conversa que importa. Os poetas não sabem falar em prosa. Não se ajeitam com a prosa. O poeta é como que um “constructo” da própria poesia, o seu correlato, um “derivado”. Não existe fora da poesia… e sem musa. Por isso, a sua existência é indissociável delas. Querer dar vida a um poeta fora da poesia é como alimentar um peixe fora de água. J´ºa se sabe o destino. Perante um estímulo, a sensibilidade só dispara se já estiver inscrita prévia e geneticamente no modo de ser poético. O registo sensível é poeticamente modulado. Não se pode pedir ao poeta que registe de outro modo e que fale noutra linguagem. Não saberia.

A VISITA DA MUSA

Ser um sonho de alguém que não existe… Oxímoro? Ou seja, será o poeta, ele próprio, o resultado da sua própria fantasia, lá onde habita a musa? Um “constructo” ou correlato da poesia? Uma ficção? A poesia antecipa a existência do próprio poeta que a compõe? De certo modo, sim, se o poema estiver já inscrito no registo sensível que lhe deu origem. Aqui, o poeta é somente o executor de algo que já aconteceu na sua sensibilidade. Coup de foudre. Um dom natural. Uma dádiva divina (ou da musa). Algo parecido com o que acontece na doutrina da predestinação. Com a graça. E, então, ele é somente o agente apolíneo da poesia, digamos assim. Existe poeta sem poesia e sem musa? Não. Da musa, da visita da musa, nasce o poeta. Isto dizia-o Eliot. E a poesia é a casa da musa. O poeta entra na casa da musa e engravida poeticamente. Os filhos são os seus poemas. Depois chegam os fantasmas. Isto dizia-o Kafka, nas “Cartas a Milena”. Estamos no terreno da fantasia. E no do desassossego, que suscita a intervenção da fantasia para o moderar e o tornar suportável. É claro que a visita da musa o põe em desassossego e o obriga a entrar na casa da fantasia que ela habita e que é também frequentada por fantasmas. Digamos que passa a ser um desassossego produtivo e criativo. Neste ambiente só a poesia o pode sossegar e resgatar. O poeta atormentado e inquieto. Ela é eficaz porque é altamente performativa. Mais do que as outras artes. Até mais do que a música. Introduz realismo no ambiente ficcional em que entrou. Sim, é natural que o Bernardo Soares apareça sempre, embora não se ajeite lá grande coisa com a poesia. Mas aparece muitas vezes a comentar a vida do poeta. O que se compreende, porque tem lá em casa muitos irmãos poetas. Eu creio que ele (o Pessoa e também o Shakespeare) também anda por aqui, neste poema, “O Poeta e o Silêncio” (09.06.2024).

DESTINO

Penduro o quadro, que fica a contemplar a melancolia do poeta, e sigo-o na sua caminhada de diálogo terapêutico com ela, a melancolia. Isto dizia um Amigo na sua habitual viagem por dentro dos meus poemas. Dizia, e bem. O que o poeta quer verdadeiramente é atingir um estado de doce melancolia. O que lhe resta. Mas para isso tem de interpretar o silêncio da musa e encontrar o seu eco em palavras com ritmo e melodia. É assim que ele tempera a melancolia e se instala suavemente nela. Uma coisa é certa: não acredita que haja recusa, mas sim que o silêncio seja a sua fala, a da musa, o seu modo de estar permanentemente frente a ele, à sua fantasia, sem o amarrar a palavras, que até poderiam ser mal interpretadas. Ou fazerem-lhe mal. E ele responde-lhe com as solícitas palavras de que sempre dispõe quando se trata dela, do seu silêncio. É claro que ele frequenta o oráculo. Nem de outro modo poderia interpretar o seu silêncio. E o oráculo diz-lhe que ela lhe fala através dele. E ele ouve-o e ouve-a, com a ajuda da deusa. E responde. Tinha razão o Eliot: a musa um dia visitou-o e o poeta nasceu. Agora tem de cumprir o seu destino: cantá-la.

O POETA E O SILÊNCIO

Renovar e recriar o passado que subsiste na memória do poeta é (também) uma das suas missões. Muito importante porque é viajar no tempo e modulá-lo com a alma e com a fantasia, podendo assim resgatá-lo. É o poder da arte. Mas é na interpretação dos silêncios gerados por esse passado não resolvido, quase sempre não resolvido ou fracassado, que a missão do poeta mais se afirma… e a arte acontece. Rei do silêncio: parece ter sido o Shakespeare que usou esta expressão e ela adequa-se bem à condição do poeta. O passado é silencioso, mas não fica inactivo. Às vezes produz autênticas hecatombes, quando o que o sofre é incapaz de o verbalizar. O poeta, pelo contrário, dá-lhe voz num sofisticado processo de recriação. E preserva-o, mas convertendo-o. De resto, a linguagem poética é de todas a que mais se aproxima do silêncio, podendo ambos quase tocar-se e trocar-se. Um no outro. O silêncio em poesia e a poesia em silêncio. Há intercâmbio entre o silêncio e a poesia. Há, sim. Fácil, fácil é trocar palavras, difícil é interpretar os silêncios, dizia o Fernando Pessoa. Ir mais ao fundo, para além do virtuosismo. Difícil o deslizar das palavras sobre o silêncio e regressar a elas com o eco dele, com o sentido dele… para o cantar. Isso, sim, é difícil. Passa por grandes provações. Que o diga a musa.

O ECO DO SILÊNCIO

“Poeta de ser e de estar” – disse-me um Amigo quando comentava um poema meu. O tempo e o espaço na vida do poeta. Vai sendo, vai construindo a sua identidade no tempo à medida da criação poética. Tudo no espaço da sua intimidade partilhada. E os silêncios dizem sempre muito… ao poeta. Permitem-lhe completá-los com palavras.  Se forem pura ausência passam a ter um novo sentido. Mas nunca há pura ausência porque subsistem os registos da memória e é sobre eles que o poeta discorre. Como expressão subjectiva de um tempo reconstruído esteticamente com a sua sensibilidade. Como eco do silêncio vertido em palavras.

O LOUREIRO E O POETA

O loureiro não era o arbusto só dos vencedores, mas também dos poetas. E não deixa de ser curiosa esta dupla função. Os poetas são mais perdedores do que vencedores, porque se assim não fosse não sentiriam necessidade de “desabafar” em poesia, de se libertarem do insustentável peso do fracasso através da palavra poética.  De se libertarem do sufoco em que ficaram quando tropeçaram na realidade e se estatelaram.  É então que o seu espírito entra em acção e eleva a alma perdida nessa “selva oscura” da vida. Tornam-se, assim, vencedores. Com direito a folhas de louro. Mas talvez o louro em excesso os narcotize e os leve a perder o norte, “la diritta via”. E, todavia, sendo poetas, não sendo só filhos de Dionísio, mas também de Apolo, a sua redenção, a sua subida ao Parnaso, fica garantida. E com o triunfo, o acesso ao Parnaso, regressam as merecidas folhas de louro. A perdição, o resgate, o louro. Ecco.  

DELFOS

Em Delfos, junto ao Monte Parnaso, a morada das musas, havia construções com pedras vindas do Monte Parnaso. Tudo estava em ligação com tudo na mitologia grega. E  sobretudo na tragédia grega, onde o “espírito dionisíaco” estava em harmonia com o “espírito apolíneo”. Páthos, luz, sabedoria, poesia. Apolo. Mas também Dionísio e as libações. A ilustração do poema “O Loureiro” chama-se “Luz” (16.06.2024), a que chegou ao coração do loureiro (a forma é um coração). De outro modo, sem luz, como poderia ser o louro o símbolo da vitória? E a mancha (da pintura) é inspirada no loureiro que o poeta tem no seu inspirador jardim. Só que com cores aquecidas para melhor sintonizar com o poema e com o que o poeta sente. Apolo inspira a componente racional e espiritual da poesia. O templo de Apolo é o templo da sabedoria, a que espiritualiza as pulsões dionisíacas que estimulam no poeta o movimento apolíneo para o sublime. Para o resgate, para a redenção. O loureiro aqui cantado e pintado tem luz dentro de si e não só estimula o poeta-pintor como o protege e o inspira. Talvez a leitura (também aqui se trata de sinestesia) deva ser feita do poema para a ilustração e não da ilustração para o poema. Acho eu, mas cada um dos leitores segue as suas próprias intuições e o seu processo de descodificação da mensagem oracular do poema e da pintura. A poesia deixa-se seduzir pelo leitor e corresponde às suas inclinações. É feminina, a poesia.

TRANSE

Bem sei que as folhas de loureiro usadas em excesso podem tornar-se narcóticas. Pode-se entrar em transe, como acontecia lá em Delfos. Mas a verdade é que o poeta de certo modo vive sempre em estado narcótico ou em transe existencial. É neste chão que acontece a poesia. Será por isso que as folhas de loureiro estão também associadas aos poetas? Tudo parece estar ligado. E não era o Nietzsche que punha as libações dionisíacas como base necessária da arte? Dionísio, sim, para só depois intervir Apolo na espiritualização das pulsões. A verdade é que sem um doce estado de embriaguez existencial talvez nem seja possível poetar. Mas não sei. Não sei se será o caso do poeta que reflecte sobre a poesia. O que sei é que o loureiro que o inspira tem uma densa folhagem e, por isso, talvez o seu perfume lá no jardim seja tão intenso que chegue mesmo, às vezes, a pô-lo em estado de embriaguez. Em transe. Mistérios da arte. E do loureiro.

RENASCER

O poeta, com a sua arte renasce, tal como o loureiro, com a poda. Poda-se o loureiro e ele renasce e mais cresce ainda; o poeta poda as palavras e a poesia renasce e cresce. Um encontro feliz que merece ser cantado.

A PODA  

O loureiro também dá uvas, como um dia o poeta constatou, ao ver o enlace entre ele e uma videira cardinal, sua vizinha. Não dá, pois, só pequeninas bagas, quando rejuvenesce, e folhas. Mas poder-se-ia dizer, hoje, que “foi chão que já deu uvas”. Talvez porque a videira cardinal não tenha gostado do enlace e nunca mais voltou a acasalar com o loureiro. A verdade é que o loureiro continua atractivo, agora não com uvas, certamente, mas com tanta luz. Graças ao pintor. E um dia, levado pelo vento, foi até à Beira-Tejo, onde estava instalado um amante da poesia, iluminando-lhe a sala e o seu sempre atento espírito. Foi ter com ele, o loureiro. Pois foi. Mas posso confessar (embora este seja um segredo mal guardado) que ele, afinal, sempre gostou muito da Beira-Tejo. Disse-o um dia e o poeta registou. E, desta vez, chegou lá já podado, para não desmerecer as palavras, também elas cuidadosamente podadas. Ou terão elas sido podadas para não o desmerecerem a ele, o loureiro? Talvez seja mesmo assim. É a sua centralidade no jardim que exige todos os cuidados. Sobretudo quando o vento o leva para outras paragens. O poeta nunca quer que ele se queixe do canto com que o celebra nos dias de festa, lá no Jardim Encantado. E isso não muda, na mudança. Mesmo quando é podado e perde momentaneamente alguma pujança visual. Porque sabe que logo adquirirá “novas qualidades”. O que, naturalmente, faz o poeta feliz e o inspira para novos cantos. JAS@06-2024

Oraculo2023_1805Rec

 

 

 

 

 

 

 

 

Poesia-Pintura

NUVEM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Travessia”, JAS 2022,
93x118, impressão Giclée
em papel de algodão e verniz
 Hahnemuehle (100% e 310gr),
Artglass AR70, mold. de madeira.
Original de minha autoria.
Junho de 2024.
Jas09ATravessia2022

“Travessia”. JAS 2022. 06-2024

POEMA – “NUVEM”

EM SOMBRA
Intangível
Se diluía
Esse corpo
Desejado,
Nuvem
No céu da
Fantasia,
A que ele
Mais queria
Ver-se sempre
Abraçado.

VIA
A silhueta
Esfumar-se
Lá no alto,
Soprada
Pelo vento,
E desenhava
Com palavras,
Por entre
Silêncios
E murmúrios
Sincopados,
O que dela
Lhe sobrara
No seu
Mais íntimo
Recanto:
A luz do seu
Corpo,
Seus olhos
Negros
Flamejados.

AS PALAVRAS
Atropelavam-se
Para correr
Atrás dela
No céu
Quente
Da sua
Fantasia
Em pautas
Para música
De câmara
Com a sua
Melodia.

INTIMIDADE,
Era o que ele,
Nessa ausência
Sofrida,
Nesse silêncio
Fatal,
Mais desejava
E sentia,
Como se fosse
Carnal.

“NÃO ACREDITAS
Nisto, pois não?”
Perguntava-lhe
Em surdina,
Com a alma.
“Tanto de mim,
Neste excesso
De palavras
Sobre ti,
Como lava
De vulcão
A deslizar
Num poema
Pela encosta
Íngreme
Do teu corpo...”

"LÁ NO ALTO,
Posso olhar-te
Sem te ver,
Por fora,
Mas por dentro,
Com a alma,
Ondes me cresces
Em palavras
Sem que saibas
Que outras vidas
Nascem 
Como fruto
Do desejo
Proibido
E do tormento,
Até que um dia
Elas te cheguem, 
Assim,
Inesperadas
E levadas
Pelo vento."
Jas09ATravessia2022Rec

“Travessia”. Detalhe.

Artigo

OS PARTIDOS E A CRISE DE REPRESENTAÇÃO

A PROPÓSITO DE UMA INICIATIVA DO PS

João de Almeida Santos

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“S/Título”. JAS. 06-2024

ANALISANDO A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS PARTIDOS e dos movimentos eleitorais, em geral, o que se verifica é que a bipolarização entre dois grandes partidos ou blocos políticos que, a seguir à segunda guerra mundial, se foi impondo até aos anos noventa começou a sofrer um lento desgaste a partir desta altura, dando lugar a uma progressiva fragmentação dos sistemas de partidos e à emergência de novas formações políticas, à esquerda e à direita. A causa geralmente atribuída a este desenvolvimento é a chamada crise de representação, associada à queda das ideologias, que alimentavam o sentimento de pertença, mas também às mudanças na middle class, que suscitaram a transformação dos chamados partidos-igreja em catch-all-parties, de baixa densidade e intensidade ideológicas, interclassistas e totalmente dependentes do aparelho de Estado. A lógica da alternância no governo entre estes dois partidos ou blocos de partidos levou à emergência de uma crescente endogamia que curto-circuitou progressivamente as suas ligações à sociedade civil. Entretanto, aconteceu uma profunda mudança na identidade da cidadania, sobretudo pela revolução tecnológica, pelo crescimento da middle class, pela globalização e pela profunda alteração e alargamento das plataformas de comunicação/informação, designadamente pela emergência da mass self-communication, pondo em crise o chamado sentimento de pertença, ancorado nas ideologias e na relação orgânica e territorial entre o cidadão e os partidos políticos. 

1.

E, todavia, no meio de todas estas mudanças e depois da transformação destes partidos em catch-all-parties, a política continuou a mover-se nos carris tradicionais, numa lógica equivalente à das grandes plataformas de comunicação tradicionais, dos mass media, a de broadcasting, vertical e hierarquizada, e a socorrer-se generalizadamente, e cada vez mais, de outsourcing comunicacional, deixando definhar lentamente, em várias frentes, o seu próprio corpo orgânico e territorial e tendo como estratégia central viver e reproduzir-se à custa do aparelho de Estado. 

2.

O que, entretanto, está acontecer, nos nossos dias, com a emergência de uma direita radical politicamente já muito forte, deve-se, por um lado, a esta crise de representação e, por outro, à capacidade desta direita de interpretar com eficácia os vários nódulos críticos da política desenvolvida pelos partidos da alternância ou do establishment, em particular o da redução da política a mera tecno-gestão ou management dos processos sociais e a generalizada assunção acrítica da ideologia identitária dos novos direitos, mas também a um uso competente e eficaz das novas plataformas comunicacionais digitais para fins políticos, como se viu no caso da vitória de Trump e do BREXIT, em 2016. Falo de tudo isto no meu mais recente livro Política e ideologia na Era do Algoritmo (S. João do Estoril, ACA Edições, 2024, 262 pág.s – já disponível na versão digital, em pdf). 

3. 

Sim, são estas as linhas de força da política contemporânea, sem dúvida, mas o que, concretamente, motiva este artigo é a iniciativa, em curso, do PS de abrir as suas sedes nos círculos eleitorais, regularmente, de modo a estabelecer um canal de comunicação permanente com a cidadania. E é claro que o que este partido pretende, com a iniciativa, é precisamente dar resposta à crise de representação e recuperar uma ligação orgânica e territorial mais sólida com a sociedade civil. A começar pelos cidadãos, singularmente considerados. É, quanto a mim, uma boa iniciativa, a que deveriam seguir-se outras na lógica bottom-up e numa dinâmica em rede, para além da lógica broadcasting ou one-to-many, que se continua a revelar, tal como na mass communication, como lógica dominante, mas cada vez mais unilateral e democraticamente pouco consistente. Creio que os anunciados estados gerais também se inscrevem nesta lógica e nesta dinâmica em rede. O que é muito positivo, desde que a pulverização de iniciativas não acabe por resultar numa perigosa fragmentação do discurso político do PS, como discurso para todos os gostos, ou mesmo num deslize fatal para esta insinuante e perigosa ideologia identitária dos novos direitos, com o seu cortejo de frentes centradas numa vasta fragmentação identitária. Risco que só poderá ser evitado se o PS tiver uma identidade muito bem definida – que não as gastas fórmulas que já nada dizem aos cidadãos e que até são partilhadas por outras forças políticas (por exemplo, a  ideologia das “contas certas”) -, em linha com as profundas mudanças que há muito se vêm verificando e que já mudaram o perfil da própria cidadania, designadamente, na sua relação com o novo perfil que o cidadão adquiriu na sociedade digital em rede (ou na nova sociedade algorítmica) globalizada, mas também na sua relação com a matriz da nossa própria modernidade, hoje fortemente combatida quer pela direita radical quer pela esquerda identitária dos novos direitos

4.

É neste quadro que se deve olhar para a iniciativa do PS, mas é também neste quadro que se deve pôr em destaque uma outra questão, sendo, de resto, o PS o partido que está em melhores condições de promover a sua resolução. Esta: os deputados, de acordo com o regimento da Assembleia da República, tendo mandatos universais e representando a nação (e não o respectivo círculo eleitoral), desenvolvem, todavia, o seu trabalho político também nos círculos eleitorais por onde foram eleitos, designadamente ouvindo os seus eleitores sobre aquilo que são as suas expectativas e os seus problemas (“constituency surgery”). Matéria prevista na Constituição (Art. 155.º) e no regimento da AR (Art.16, n. 2, al) a): “Compete ao Presidente da Assembleia da República, ouvida a Conferência de Líderes: a) Promover o desenvolvimento de ferramentas que visem o contacto direto ou indireto dos Deputados com os seus eleitores, nomeadamente a criação de formas de atendimento aos eleitores, a funcionar nos respetivos círculos eleitorais”.

5.

Ora acontece que em Portugal os deputados não têm nos círculos eleitorais um espaço institucional para receberem os cidadãos. Antes, podiam usar os governos civis para esse efeito (o que representava somente um espaço físico disponível, mas não mais do que isso, e uma gentileza do poder executivo para com o legislativo). Agora nada existe. E não se pode argumentar dizendo que há as sedes dos partidos porque os deputados representam a nação, não os partidos e nem sequer os círculos que os elegeram. Têm, todavia, o dever de ouvir os cidadãos e, na lógica de uma divisão técnica do trabalho político da Assembleia, entende-se que o trabalho dos deputados se exerça também no seu próprio círculo eleitoral, por imperativo constitucional (art. 155.º da Constituição: “1. Os Deputados exercem livremente o seu mandato, sendo-lhes garantidas condições adequadas ao eficaz exercício das suas funções, designadamente ao indispensável contacto com os cidadãos eleitores e à sua informação regular “). Só que para que esse trabalho seja eficiente tem de haver, como indica a Constituição, condições para isso. Condições com dignidade e eficazes. Nesta ocasião, em que o PS avança com a iniciativa que referi, deveria ser ele a promover a resolução desta falha inacreditável junto da Presidência da Assembleia, tornando-se seu promotor. Nem sequer seria nova a iniciativa, pois há mais de dois anos um deputado do PS, António Monteirinho, apresentou um requerimento (1/AR/XV/1, de 28.04.2022) ao Presidente da AR, Augusto Santos Silva, precisamente neste sentido, tendo merecido acolhimento e tendo-lhe sido dado andamento administrativo para os serviços com vista ao estudo técnico das soluções possíveis. Iniciativa que, todavia, não teve, até ao momento, sequência prática (que eu saiba).

6.

Parece-me, pois, que esta iniciativa deveria ser assumida pelo próprio PS uma vez que se trata de aperfeiçoar o funcionamento da democracia, melhorando as condições de exercício do mandato de todos os deputados, e não só dos do PS, e podendo, assim, dar resposta às expectativas dos eleitores. Afunilar no espaço político do PS a acção dos seus próprios deputados parece-me desadequado, até porque a acção de um deputado da nação não deve ficar confinada nas fronteiras do seu próprio partido. Pela simples razão de que o seu mandato, enquanto titular de um órgão de soberania, é mais vasto do que o raio de acção do respectivo partido, que é uma organização privada (embora com fins públicos e relevante inscrição constitucional).  Trata-se, pois, de separar o que é do foro partidário – e a iniciativa partidária anunciada é de louvar, como disse – daquilo que é do foro da representação nacional, extra e suprapartidária. De resto, as duas iniciativas complementam-se e não se anulam, porque se trata de realidades muito distintas, embora convergentes em relação ao mesmo fim: a superação da crise de representação

7.

Confesso que não compreendo a existência desta falha, que é total e até desrespeitosa em relação à Constituição, pelo menos desde que foram extintos os governos civis. E se muitos se interrogam sobre a real consistência das representações parlamentares, devido à forma como os candidatos a deputados são recrutados e ao funcionamento do sistema de poder interno, esta situação ainda vem reforçar mais essa dúvida ou mesmo a crua descrença no valor do trabalho dos representantes. O que espero, pois, é que o PS tome mesmo em consideração esta questão e promova a sua resolução. Seria um bom sinal da nova liderança do PS. A democracia ficar-lhe-ia devedora de uma boa iniciativa para melhorar a sua qualidade, demonstrando ao mesmo tempo que não identifica a acção política como exclusiva de uns tantos iluminados que, sentados em torno do líder, tudo decidem, em nome de toda a sua representação parlamentar. Os estados gerais não se podem confinar a uma grande operação de marketing para efeitos eleitorais. Ela deve combinar ampla auscultação da cidadania com reflexão aprofundada sobre o que são a política, a democracia e a cidadania, hoje, mas deve também promover mudanças concretas que melhorem o sistema em geral, incluído o próprio. E eu creio que a qualificação da democracia pode beneficiar, por si mesma, as forças da esquerda. Não sendo por isso que ela deve ser melhorada e aprofundada, como é evidente, também creio que os seus efeitos sentir-se-ão mais à esquerda do que à direita. Pela óbvia razão de que a esquerda é mais subsidiária de uma política qualificada do que a direita, mais vocacionada para, através da política, defender os interesses instalados do que para transformar a sociedade, designadamente na sua dimensão política, social e cultural. JAS@06-2024

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Poesia-Pintura

IDENTIDADE

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: "Eu - Nos Tempos de Roma"
Original de Pedro de Almeida Santos
18 de Junho de 2024

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“Eu – Nos Tempos de Roma”. Por Pedro de Almeida Santos. 18.06.2024

POEMA – “IDENTIDADE”

EU SOU QUEM SOU,
Dizia Jahvé,
Mas eu,
Que também sou,
Sou aquele
Que, afinal,
Ainda não sabe
Quem é.

OU SABE,
Ao ter sido,
Pois cada um
É o que é
Pelo que foi
E será,
Pela vida
Que fizer,
Do que da vida
Fará.

PARA ALÉM
Do que eu sou,
É para fazer
Que existo,
Pois o simples
Existir
Não chega
Pra definir
Da vida
O seu registo.

O QUE FOR
Ver-se-á
No caminho
Que escolher...
.............
Mas, vagando
Pela vida,
Serei só
O que fizer?

MAS QUEM SOU EU,
Afinal?
Sou somente
O que já fui
Ou continuo
O caminho,
Com os outros
Ou sozinho,
Como desejo
Constante
De me encontrar
Por aí,
Sempre livre,
Sempre errante
Desde que
De mim eu saí?

SOU POETA?
Sou pintor?
Vivo feliz
Na cidade?
Sou
Cidadão
Do meu mundo
Com incerta
Identidade?

NÃO SEI,
Como dizia
O poeta,
Mas se só for
O que fiz
Não existo
Como tal,
Não sou mais
Que cena nua,
Desenho
Feito a giz
Por pintor
De qualquer rua,
Filho de arte
Banal.

EU EXISTO,
Ou não existo,
Para além
Do que já faço
E do que outros
Vêem fazer?
Só existo
Em seu olhar?
Sou aquilo
Que pareço
E nada mais
Posso ser,
Nada mais
Posso criar?

A VIDA É MAIS
Do que aquilo
Que pareces
E se não fores
O que és
Nunca ela
Te dará
O que, afinal,
Não mereces...

OS OLHOS
Dos outros
Teus espelhos
Sempre serão,
Ajeitas-te
Para lá fora
Ver
O que, afinal,
Pode ser
Uma pura ilusão,
Pois quando
Regressas a ti
Quebra-se
Esse espelho
E regressa
A solidão.

EU QUERO SER
O que sou
E também o que
Pareço
Mas para ser
O que quero
Só a mim
Eu obedeço.

SER E PARECER
A uma só vez
Eis a minha
Solução,
Mas se o parecer
Me domina
É melhor que
Diga não.

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Poesia-Pintura

O LOUREIRO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “Luz”
Original de minha autoria
Junho de 2024

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“Luz”. JAS. 06-2024

POEMA – “O LOUREIRO”

CRESCEU MUITO
O Loureiro,
Cresceu, cresceu,
É assim,
Cresce por dentro
E por fora,
E cresce
Dentro de mim.

AGORA TEM LUZ
Por dentro,
Vem lá do alto,
Do céu,
Ilumina o Jardim
Que, antes,
Era só meu.

UM GIGANTE
À minha frente,
Apontando
Para o céu,
Eleva-se,
É imponente,
No jardim
Que já é seu.

QUANDO TENHO
De o podar
Dói-me a alma...
..............
Mas tem de ser,
Da poda
Ninguém se salva
Pra com ela
Renascer.

ARBUSTOS
Flores
Ou frutos,
Tudo muda
No Jardim,
Tudo está
Em movimento
E também eu
 Me sinto assim 
Quando sopra
Forte
O vento.

SÓ UMA COISA
Não muda
Pra que tudo
Possa mudar,
Não muda
A minha vontade
Nem a forma
De o cantar.

Licht2024Trab1Rec

“Luz”, Detalhe

Artigo

AS EUROPEIAS 2024

E suas consequências

João de Almeida Santos

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“S/Título”. JAS. 06-2024

SE ANTES DAS ELEIÇÕES é sempre conveniente formular a pergunta “Para que serve o meu voto?”, depois do voto ainda o é mais. Votei e, agora, o que irão fazer do meu voto os representantes e os seus proponentes? Uma primeira resposta é óbvia: o voto serve para eleger representantes para a instituição em causa no processo eleitoral. Neste caso, para o Parlamento Europeu. Sim, mas a questão não se esgota nisto. O voto serve também para legitimar (ou para pôr em crise de legitimidade) as forças políticas proponentes, os partidos, ou seja, tem efeitos decisivos a montante. O voto tem, pois, duas funções essenciais: a da designação dos representantes e a da legitimação dos mandatos e das forças políticas proponentes que, de acordo com a Constituição, se mantêm decisivas no processo político. O mandato é não imperativo, sim, mas ele tem uma correspondente a montante, naquelas instâncias que detêm o monopólio da propositura, ou seja, nos partidos políticos. Este segundo aspecto é mais relevante no caso das eleições europeias por uma razão essencial: não tendo os 21 mandatos atribuídos, numa câmara com 720 mandatos, a importância que têm quando se trata de um parlamento nacional, a expressividade do voto recai também com muita intensidade sobre as forças políticas proponentes, conferindo-lhes ou retirando-lhes legitimidade e densidade política para efeitos de participação no processo político nacional. Não creio que seja muito difícil de perceber isto. A legitimidade é mais ampla do que a que fica inscrita em cada mandato, porque é ela que confere consistência e credibilidade às forças políticas e à sua expressão institucional para prosseguirem numa determinada direcção política. Sendo certo que os mandatos são autónomos e universais, a legitimidade decorrente da atribuição do número de mandatos retroage sobre as forças políticas proponentes na exacta medida em que a constituição prevê uma relevante função dos partidos políticos no sistema democrático, mas também por serem eles que detêm o monopólio de propositura e por a escolha se efectuar (no boletim de voto) sobre a sigla partidária e não sobre os concretos candidatos. O voto tem, pois, estes efeitos: a designação dos representantes, a gestação de um governo, com base no princípio da maioria, e a legitimação dos mandatos e das forças políticas proponentes.

1.

Assim sendo, tendo a AD perdido estas eleições quando quase 4 milhões de eleitores se pronunciaram, fazendo a sua escolha precisamente numa sigla (não num nome), é claro que estas eleições têm um impacto político interno e directo sobre uma maioria e um governo que já exibiam uma legitimidade eleitoral extremamente frágil (assente em menos de um ponto percentual, se comparada somente com a do PS) e que agora ainda fica mais diminuída. Subtraídos os votos do CDS/PP e do PPM, o PSD (sobre o qual recai a responsabilidade do governo) fica a quase 300 mil votos do PS nestas eleições (cálculo baseado nos resultados do CDS e do PPM nas eleições europeias de 2019), o que representa cerca do 7,5% dos votantes nestas eleições. Não é coisa de somenos, do ponto de vista da legitimidade. A AD perdeu e o PSD, comparado com o PS, perdeu muito mais, não se vislumbrando, pelo que já se viu, grandes melhorias na sua acção política.

2.

Para que serve, pois, o voto? Serve para clarificar a situação política global de um país quando se trate de milhões de cidadãos a manifestarem a sua confiança numa determinada marca ou sigla política, ou seja, numa determinada proposta política. Por isso, a legitimidade do actual governo, depois desta clarificação, ainda ficou mais frágil na medida em que não tem a preferência da maioria dos eleitores intervenientes nestas eleições (e o mesmo já se verificara em relação ao PSD nas eleições legislativas). Digamo-lo de forma mais clara: este é um governo do PSD e este partido, que já não era o partido mais votado, viu mais diminuída ainda a sua dimensão depois das eleições, e nos termos que acima referi. Não tendo, como é óbvio, estas eleições aplicação directa em matéria de governação, ficará para o momento decisivo da discussão do orçamento a pronúncia sobre a legitimidade (a que resulta do voto e a que resulta do exercício) e da densidade política desta maioria de governo, sendo certo que, não considerando a posição do CHEGA, do que se trata é, de facto, de uma minoria que pode ver o orçamento recusado pela maioria relativa de esquerda que existe no Parlamento. Macron, vistos os resultados das europeias, não hesitou e decidiu, de imediato, perguntar aos franceses o que querem em matéria de formação de um novo governo. Foi uma decisão sensata (perguntar ao povo soberano o que é que, afinal, quer) e não é seguro que o vencedor destas eleições, o Rassemblement National do senhor Jordan Bardella, confirme em eleições legislativas a vitória, tendo em conta o sistema eleitoral francês, maioritário em duas voltas. Poder-se-á, todavia, dizer que a hecatombe do SPD de Scholz (ficou em terceiro lugar, com 13,9% contra 30% da CDU/CSU e 15,9% do AfD) nestas eleições europeias não o levou à demissão, apesar de a soma da coligação semáforo que sustenta o seu governo ter ficado somente um ponto acima da CDU/CSU, ou seja, 31%, ou seja, tendo-se verificado uma fortíssima quebra na legitimidade da coligação. Sim, mas Scholz ainda dispõe de 416 deputados num Parlamento com 736 deputados, ou seja, ainda dispõe de uma robusta maioria absoluta no Bundestag. Gasta, sim, mas efectiva, o que não acontece entre nós – aqui temos uma dupla minoria, em relação ao número total de deputados e em relação aos deputados da esquerda.

3.

Por cá, de facto, isso não se verifica, tendo a esquerda a maioria, desde que o CHEGA não entre na equação, proibida que está pelo “não é não” de  Luís Montenegro. A clarificação da situação fica assim dependente de uma posição favorável no orçamento ou mesmo de uma integração daquele partido na solução de governo, o que não é certo que aconteça. É claro que o fraco resultado obtido por este partido nestas eleições pode levar André Ventura a temer uma ida às urnas por risco de perder a força de que dispõe actualmente no Parlamento. Sim, é verdade, mas parece ser útil lembrar que também a AD e o PS perderam, relativamente às eleições de Março, 585.704 votos (AD) e 545.655 (PS), o que, sendo, em ambos os casos, menos do que aquilo que o CHEGA perdeu, ou seja, 783.154 votos, não deixam também de ser perdas significativas. Pelo menos, perdas que relativizam a perda do CHEGA. Ou seja, se a comparação com as legislativas é válida para o CHEGA, manda a coerência que também seja válida para os dois maiores partidos.

4.

O que pretendo dizer com tudo isto é que a legitimidade política da minoria que suporta o governo se já era pífia, depois destas eleições mais fragilizada ainda fica, sendo, pois, necessário evidenciar ou sublinhar esta situação. Eu não acho que o PS deva estar constantemente a afirmar-se como o partido da estabilidade, o partido da responsabilidade ou então ter medo de ir para novas eleições se a actual situação de crise de legitimidade do governo se mantiver. A verdade é que a direita tem a possibilidade de construir uma maioria estável no parlamento (esta solução já existe em vários países da União Europeia, por exemplo, na Suécia e na Finlândia, para não falar da Hungria, da Holanda ou da Itália), sobretudo agora, depois destas eleições, podendo hoje o CHEGA estar ainda mais disponível para a integrar, pese o famoso “não é não” de Luís Montenegro, cujas performances eleitorais não parece estarem a ser muito consistentes e auspiciosas. Ou seja, o sistema democrático ganharia com uma clarificação da questão da legitimidade: ou através de eleições ou através da conjunção das forças da direita moderada e radical como suporte do governo.

5.

Visto isto, não compreendo a atitude do Secretário-Geral do PS, precisamente na noite em que este partido ganhou as eleições, de se apressar a dizer que não será o PS a pôr em causa a estabilidade política, querendo, talvez, com isso significar que, afinal, já está disponível para aprovar o orçamento, cedendo a chefia da oposição ao CHEGA, o que contraria a posição antes afirmada pelo próprio Pedro Nuno Santos. De resto, bem vistas as coisas, será mais provável que nestas circunstâncias o CHEGA não esteja interessado em provocar eleições e, por isso, esteja mais disponível para aprovar o orçamento do que para o chumbar, o que deixaria o PS na confortável posição de exprimir, com o voto no Parlamento, a sua diferença programática relativamente ao PSD. A verdade é que este governo, sem consistente legitimidade, tendo o orçamento aprovado terá ipso facto uma vida prolongada pelo menos até 2026, a não ser que, entretanto, uma moção de censura seja aprovada pelo Parlamento ou uma moção de confiança do governo seja recusada. O que me parece é, pois, que o momento decisivo para a clarificação política seja o da apresentação do orçamento. E muito mais na circunstância de, no momento em que for apresentado o orçamento para 2026, o Parlamento já não poder ser dissolvido pelo PR.

6.

O que está aqui em causa é a questão da legitimidade. Bem sei que esta questão da legitimidade está hoje muito desvalorizada (as eleições servem sobretudo para designar os representantes), tendo dado lugar, sim, à chamada legitimidade de exercício ou, como eu prefiro, à legitimidade flutuante. Mas esta última acaba de ser posta à prova nesta mega-sondagem das eleições europeias e com resultado negativo. Ora, combinando ambas as legitimidades (a que resulta do voto e a que resulta do exercício governativo) o que parece ser mais evidente é uma efectiva crise de legitimidade deste governo. E, como diz o povo, para grandes males, grandes remédios. Que seja o povo a dizer claramente o que pretende ou então que a direita se assuma como bloco na sua compósita configuração. JAS@06-2024.

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Poesia-Pintura

O POETA E O SILÊNCIO

Poema de João de Almeida Santos
Ilustração: “A Melancolia do Poeta”
Original de minha autoria
Junho de 2024

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“A Melancolia do Poeta”. JAS. 06-2024

POEMA – “O POETA E O SILÊNCIO”

TEM RAZÃO
O poeta que quer
Ser rei
Dos silêncios
E não ficar
Escravo
Das palavras
Que ela diz...

ESCUTAR
O silêncio
Da musa
É a missão
Do poeta,
O eco
Das palavras
Em surdina
Com que ele
O interpreta.

FÁCIL É TROCAR
As palavras,
Difícil é
Interpretar
Os silêncios
Em que a musa
Se instala
Sem saber
Se são recusa
Ou se são
A sua fala.

MAS ELE SOFRE,
Entre os silêncios
Expressos
E as palavras
Trocadas,
O acre sabor
Da pura
Melancolia,
O passado
Que passou
E que agora,
Com as palavras
Que tem,
Ele renova
E recria.

FOI NESSE
Intervalo
Entre as palavras
E os silêncios
Que um dia
Se abrigou
Quando por essas
Palavras
Trocadas
De afecto
Soçobrou.

MAS LEVANTOU-SE
Pra dos silêncios
Ser rei,
Recriando
 O passado
Em poéticos
Rituais
Pra não ficar
Prisioneiro
De um tempo
Que não volta...
............
Nunca mais.

DOS SILÊNCIOS
Das suas musas
Ele é rei,
Ele é jogral,
Só ele
Os pode ouvir
Como ecos
Do seu canto
Nos dias
De ritual.

Jas_Arte6Sepia1Rec