Poesia-Pintura

UM SONHO NO MEU JARDIM

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Jardim Espectral”.
Original de minha autoria para
este poema. Agosto de 2020.
UmSonhonoJardim

“Jardim Espectral”. Jas. 08-2020.

POEMA – “UM SONHO NO MEU JARDIM”

NUMA TARDE QUENTE
De Verão
Adormeci
No meu Jardim
Encantado
À sombra de um
Loureiro
E sonhei,
Pensando em ti,
Que era
Um jardineiro...
...........
Apaixonado.

MAS ERA ESPECTRAL
A luz
Desse jardim,
Era branca,
Irreal,
Algo estranho
Para mim
Neste lugar
Seminal.

SONHEI-TE.
Nesta estranha
Visão
Tudo perdera
Cor,
Tudo era
Ilusão e
Voltou
O que então
Eu senti
Naquela tarde
De outono
Quando
Para sempre
Te perdi...
...........
Uma imensa
Comoção.

NO SONHO,
Já não te vi,
A memória
Perdeu cor,
Mas logo
Te pressenti
Nesse cíclico
Retorno
Da minha
Remota dor.

NÃO ERA
Deste mundo
Esse Jardim,
Perdera
O seu encanto,
O perfume
Já não era
Do inebriante
Jasmim
Nem de outra
Qualquer flor
Que sorrisse
Para mim.

MAS LOGO ACORDEI
Com a brisa fresca
Da noite
No meu Jardim
Encantado
E o sonho branco
E pesado
Logo teve
O seu fim,
Despertando
Uma doce
Nostalgia
Quando o brilho
Das estrelas
Do mais profundo
Do céu
Cobriu
Este meu rosto
De um cintilante
Véu
Como se fosse magia.
UmSonhonoJardimRec

“Jardim Espectral”. Detalhe.

Poesia-Pintura

A FLOR DE PAPEL

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Fleur de Papier en Vol
à la Recherche du Poème Perdu
dans un Jour d’Hiver”.
Original de minha autoria.
Julho de 2020.
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“Une Fleur de Papier en Vol à la Recherche du Poème Perdu dans un Jour d’Hiver”. Jas. 07-2020.

POEMA – “A FLOR DE PAPEL”

NUM DIA DE INVERNO
Uma flor de papel
Voou
Para longe,
Levada pelo vento.
Rajadas fortes
Quebraram
Os subtis
Filamentos
Que a ligavam
À raiz de onde
Nascera...
.............
Seu alento.

CONTINUA A VOAR,
Essa flor de papel,
Ao sabor do vento,
Pousando
Aqui e ali
E logo voando
Para outros
Destinos,
Em perpétuo
Movimento.

PERDEU AS CORES
Luminosas
Que exibia
E a fonte
D’inspiração,
A seiva
De cada dia,
Borboleta
Sem pólen
Para nova
Gestação
No jardim
Da fantasia.

MAS NUM DIA
Quente
De Verão
(Eu bem sabia)
Encontrei-a
Por acaso
Aninhada
Num arbusto,
Recolhida sobre si
Em profunda
Solidão.

PEGUEI-A
Com a mão
E levei-a
Ao Jardim
Do meu poeta
Pintor...
.............
Nosso chão.

DEU-LHE COR,
O meu poeta,
Alisou as suas rugas,
Mostrou-lhe
O horizonte
Nesse dia de
Verão
E logo a deitou
Ao vento,
Ao encontro
De raiz
Que nutrisse
Com sua seiva
Uma nova floração....
JASFleurdePapierFinal26R

“Dans un Jour d’Hiver…”. Jas. 07.2020.

Poesia-Pintura

A TUA VOZ

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Oferta”.
Original de minha autoria
para este poema. Julho de 2020.
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“A Oferta”. Jas. 07-2020.

POEMA – “A TUA VOZ”

OUVI-TE, HOJE
Ao longe,
Sons antigos
E quentes,
Iluminados
À medida
Da fantasia,
Como se o desejo
Fosse tudo,
Mesmo aquilo
Que ter
Eu não podia.

NÃO SABIA
Que me aquecias
Tanto a alma
Só de ouvir
A tua voz
Numa bela tarde
De calma.

DEPOIS VIERAM
Palavras
E consonância,
A tua voz
Soou
Cá muito dentro
De mim,
Como som
De uma harpa
Em melodia
Sem fim.

E QUANTO MAIS
Nos dizíamos
Em valsa lenta
Mais eu te sentia
Como perfume
Sonoro
Na pauta
Do nosso canto,
Som e eco
De um coro
Neste íntimo 
Recanto.

QUASE SENTIA
O calor do 
Teu corpo
Que tantas vezes
Desejei
Como abraço
Em silêncio,
Este cântico
Em surdina
Que para ti
Inventei
Como se fosses...
........ 
Divina.

MAS ENTRE NÓS
Há a barreira
Do tempo
E um muro
No espaço
(Eu bem sei),
Mas parece
Que ensaiamos
“Pas de deux”
Como abraço
Em palco íntimo
Onde contigo 
Dancei.

FAZES-ME FALTA,
É o que sempre
Eu te digo,
Mas resisto
Até que
Campaínhas do
Paraíso
Toquem
No meu Jardim
Encantado,
Poético
Reencontro
Sempre por mim
Desenhado.

MAS HOJE
Eu descobri
Que a tua alma
Oculta e
Silente,
Tão esquecida
De ti
À superfície
Dos dias,
É o que  mais
Aproxima
Quando
Te chamo 
E invoco
Com versos
Em boa rima...

OUVI-TE, HOJE,
Ao longe,
Quando te via
Perdida...
.............
Não te percas
Também tu,
Não te quero
De partida...
Oferta17R

“A Oferta”. Detalhe.

Poesia-Pintura

RITUAIS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Templo Inacabado”.
Original de minha autoria
para este poema. Julho de 2020.
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” Templo Inacabado”, Jas. 07-2020

POEMA – “RITUAIS”

IMAGINEI UM TEMPLO
Revestido de vitrais,
Celebrar-te
Com palavras
Em singelos rituais.

EVOCO
O tempo
Em que sempre
Me perdia
Nesse teu olhar
Esquivo...
...............
E os silêncios
Que sobravam
Como se fossem
Castigo.

É O QUE RESTA
Como alimento
Da alma,
O fervilhar
De memórias,
Inscrições
Sensoriais,
Silêncio
Profundo
A poético
Chamamento...
...............
E tudo o mais...

UM FUTURO IMAGINADO
De voluntário
Amante,
Construído
Nas ruínas
De um passado
Que não é
Muito distante.

SIM, O QUE RESTA
É este brilho
Coado,
Melancólico,
Cinzento,
O negro 
De teus olhos 
Inquietos
E teus cabelos
Fartos,
Ao vento...

TUDO FERVILHA
Na minha sofrida
Memória,
Delicada criação
Em palavras
Com história.

DOU-TE, ASSIM,
 Nova vida
E renovo-me
Também eu,
Falo ao mundo
Comovido
De um templo
Que é só meu.

IMAGINEI-O,
O templo,
Para quando
Regressar
Do meu Jardim
Encantado,
Vibrante de cores
E por fora
Perfumado,
Mas por dentro
Melancólico e
Sofrido
Por te ter,
Nesse tempo
Já passado,
Dolorosamente
Perdido...
.........
De tanto
Te ter amado.
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“Templo Inacabado”. Detalhe.

Poesia-Pintura

DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Sonhei-te assim,
no Poema”.
Original de minha autoria
para este poema. Julho de 2020.
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“Sonhei-te assim, no Poema”. Jas. 07-2020.

POEMA – “DEUSA NO MEU JARDIM ENCANTADO”

SONHEI-TE ASSIM,
Meu amor:
Uma deusa no Jardim.
Não te vendo,
Recrio-te
Com fantasia,
Olhar
Deslumbrado,
Alma
Devotada
Que persiste
Fascinada
Como quando
No passado
Eu te via.

QUE SAUDADES!
Não nos gastámos
Porque partiste
Cedo demais.
Sobrou-me
De ti o melhor,
Quando, ao ver-te,
Estremecia,
Olhos negros,
Inquietos,
Mistério
Que seduzia.

FICOU-ME A VONTADE
De te desvelar
Lentamente
À medida
Do desejo,
De um forte
Encantamento,
Renovada  
Inspiração,
Oráculo e
Devoção
E silente
Chamamento.

ESTA NOITE
Sonhei-te assim,
Amanhã
Eu já não sei,
Os sonhos vão
Lá pra longe
Ou vêm pra muito
Perto,
Noites longas e
Profundas,
Quando o amanhecer
 É incerto.

POR ISSO SONHEI-TE
Hoje,
Pra te contar
O meu sonho
Amanhã,
No dia em que
Mais sinto
Esta minha solidão,
A ausência
E o silêncio
A que respondo
Com poética
Evasão.

PROCURO-TE
Na fantasia,
Nos poemas,
Na pintura,
Nos sonhos
Ou no Jardim
Onde te vejo
Altiva
Aqui bem perto
De mim.

E QUANDO TE OLHO
Vejo o mundo
A partir desse teu
Rosto,
Mais belo
E misterioso,
Mais quente,
Silencioso...

CRESCE A VONTADE,
O estro,
A poesia,
Vejo o futuro
Risonho,
Há uma certa acalmia
Neste mundo
Tão rugoso.

SONHEI-TE
Um dia antes
Do beijo
Que celebro
Com a minha poesia,
Ano após ano,
Ao encontro da raiz
Onde o poeta
Nasceu
Para o canto
Que a dor
Lhe prometeu
Como pura catarsia.
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“Sonhei-te assim, no Poema”. Detalhe.