Artigo

OPERAÇÃO CONGRESSO EM QUATRO ANDAMENTOS

por João de Almeida Santos

PS_Artigo2021Final

S/Título”. Jas. 08-2021.

PRIMEIRO ANDAMENTO: a ida simultânea do PM e dos dois ministros seguintes para férias, ficando Mariana Vieira da Silva (MVS) em funções de PM. Segundo andamento: o Presidente do PS, César, propõe-a como um dos ungidos pelo oráculo do Rato para futuros sacerdotes supremos. Terceiro andamento: o “Expresso”, o missal do regime, noticia que os ungidos pelos senhores do PS para suceder ao actual líder são quatro. A unção parece ter tido lugar no oráculo, tendo depois participado nela o “Expresso”. Quarto andamento: a SIC, terminal electrónico do missal do regime, anuncia urbi et orbi que os quatro ungidos são: Fernando Medina, Ana Catarina Mendes, Mariana Vieira da Silva e Pedro Nuno Santos. Missão cumprida. O ritual de celebração terá lugar na missa cantada do fim de semana no Algarve, em português. 

COMO TUDO NA VIDA, há um aspecto que parece encaixar mal nesta operação: um dos quatro anunciados “papabili” parece não ter sido propriamente ungido, tendo a sua inclusão sido decidida por mera exigência protocolar, porque há muito que tem voz própria e intervém politicamente sem pedir prévia autorização ao oráculo. Falo de Pedro Nuno Santos. Concorde-se com ele, ou não, a sua autonomia é facto por todos reconhecido. Mas, vá que não vá, falando dos outros dois, um até é presidente de câmara eleito, enquanto a outra é líder parlamentar e já foi secretária-geral adjunta, também por vontade do líder, sendo certo que ambos participam sempre nas celebrações como oficiantes. Mas MVS, além de estar no governo por vontade do PM (e certamente do influente Pai), o que é que já fez de politicamente relevante, no governo ou no partido, que justifique tal destaque, tão inopinada promoção?

A OPERAÇÃO é mesmo escandalosa porque a notícia é descaradamente plantada, digo plantada, pelo “Expresso” (não sei se pelo áugure Ricardo Costa) e pela SIC, seu megafone, ao ponto de, nesta última, toda a notícia de terça-feira se ter resumido a promover exclusivamente MVS, silenciando todos os outros. Alguém no PS (mas não é difícil saber quem) urdiu, em tempo de Congresso, este blitzkrieg em quatro andamentos e em aliança com o grupo de Balsemão para inopinadamente colocar a senhora em pole position, pondo na sombra todos os outros, mas, sobretudo, o único que tem mesmo voz própria, Pedro Nuno Santos, conquistada politicamente há muito no interior do partido, mas também nos governos, e sem santos padroeiros.

MAS, PIOR AINDA do que tudo isto, é reduzir, desta maneira, o PS (a que me honro de pertencer) a mera massa de manobra legitimadora de opções de palácio de uns tantos de dentro e de outros tantos de fora. Isto já se viu nestas autárquicas e ver-se-á cada vez mais no futuro se estes processos não forem travados e o partido não for politicamente reanimado. No final, o resultado seguramente não será bom de se ver, a crermos no que está a acontecer com os outros partidos socialistas e sociais-democratas Europa fora. No dia do Congresso – que mais parece uma missa cantada – não poderia ficar calado ao assistir a esta despudorada operação, com assinatura, de promoção de alguém que está ainda muito longe de ter dado provas de consistência política própria que justifiquem uma inopinada subida ao palco da política partidária, mas também à lamentável subalternização da militância e do que deve ser o funcionamento democrático de um grande partido como o PS.

HÁ MUITO QUE DIAGNOSTIQUEI, e repetidamente venho expondo, o que está em causa, mas o discurso sempre caiu em saco roto. Um dos males é a endogamia galopante e o outro a descolagem crescente entre partido e a nova cidadania (para não dizer a própria militância). Males que continuam a crescer, como mostra este episódio. Pois aqui fica o meu protesto e lavrada a minha indignação. #Jas@08-2021