Poesia-Pintura

MARMELADA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “A Dança da Combustão”.
Original de minha autoria
para este poema. Maio de 2020.
Combustão030520_Fim

“A Dança da Combustão”. Jas. 05-2020.

POEMA – “MARMELADA”

COMO GOSTO
Da tua marmelada,
Meu amor...
...........
E gosto de
Chocolates,
Dos que me
Sabem a ti,
A esse tão doce
Sabor.

GOSTO DA METAFÍSICA
De confeitaria
Porque me adoça
A alma,
É nela que eu te
Encontro,
Nesta minha 
Fantasia,
Quando a noite
Se faz calma.

SOU GULOSO,
Como sabes,
E como é doce
E macia
Esta tua marmelada,
Sinto-a
Como alquimia,
Como arte
De uma fada.

COMO, COMO,
Sem parar,
Sabe-me
Sempre a ti,
Ao brilho
Do teu olhar,
Ao perfume 
Do teu corpo,
Onde hei-de
Naufragar.

NESTA TUA
MARMELADA,
Eu vejo-te
Artesanal,
Com os marmelos
Nas mãos,
Sabores
Em harmonia,
Uma receita fatal,
Polpa moldada
Por ti
Na dança
Da combustão,
Cor intensa
E profunda,
Iguaria
De convento
Com teus frutos
Em fusão.

TALVEZ A TENHAS
Criado
Em tempo
De quietude
Ou mesmo de
Solidão,
Quando esvaece
Esse lado
Tão agreste
E tão crispado
Que te esconde
A beleza
Dos momentos
De paixão...

AH, A MARMELADA,
A metafísica,
Chocolates,
Confeitaria...
..............
A doçura
Do teu jeito
Vai ficar-me
Sempre viva
Como suave
Suspiro
Que se solta
Do meu peito...
...............
Por essa tua
Magia...
Combustão030520_FimRec

“A Dança da Combustão”. Detalhe.

Poesia-Pintura

TRÊS

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Geometria”.
Original de minha autoria.
Abril de 2020.
GeometriaFinal26

“Geometria”. Jas. 04-2020

POEMA – “TRÊS”

SINTO TRÊS VEZES
A tua falta
Na sofrida
Solidão
Onde encerro
O que não tenho
No Monte,
Oráculo
Desta minha
Invocação.

TRÊS VEZES
Eu sinto
O teu silêncio,
Na ausência
Do teu rosto
E do som
Da tua voz,
Do aroma
Do teu corpo...
................
Minha foz.

ATÉ A ALMA
Escasseia...
...............
Não lhe sinto
Pulsação,
Desmaiada
Sobre mim,
Inerte
Nestes meus braços,
Uma carícia
Sem fim...

TEU SILÊNCIO
Cai pesado
Sobre a minha
Solidão,
Meteorito
Na alma,
Inaudível
Colisão.

SOBRA-ME,
De ti,
O nome,
Rasto da tua
Passagem
Na rua
Que já foi minha,
É nela que eu
Te sonho
E te pressinto
Como deusa
Nas noites
Do meu luar
E te canto
Em poemas
Onde os nomes
São metáforas
E sem limite
O poder
De nomear.

EU SINTO
A tua falta
Três vezes
De cada vez.
É falta a mais,
Eu bem sei,
Mas o número
Perfeito
É o três.

ABRAÇO
O número
Da perfeição,
Desenho
Triângulos
Em liberdade
Até que os sinta
Vibrar,
Instrumentos
Musicais
Que dão voz
À minha dor
Na exacta
Geometria
De teus breves
 Rituais.

 NELES OUÇO
A tua melodia
Como eco
Desse nome
Que no sonho
Invoquei,
Dou início
Ao poema
Pra te sussurrar
Baixinho
A história
Que sonhei.
Geometria29R

“Geometria”. Detalhe.

Poesia-Pintura

ALMA

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração – “S/Título”.
Original de minha
autoria para este poema.  
Abril de 2020.
S:TituloFinal2_19

“S/Título”. Jas. 04-2020

POEMA – “ALMA”

SE QUISESSE
A tua alma
Como anjo
Do pecado,
Que farias
Do teu corpo
Que eu sonho
Imaculado?

SE O TEU CORPO
Pedisse
O poeta
Apaixonado
Não lhe darias
A alma,
Tributo do teu
Secreto
Pecado?

MAS EU QUERO
A tua alma
Mais do que quero
O teu corpo,
Do que de ti
Eu mais gosto,
Porque é ela
Que me fala
No brilho
Desses teus
Olhos,
No veludo
Do teu rosto.

ÀS VEZES
(Eu pressinto)
Abandonas-te
Ao ritmo
Encantatório
Das palavras
Que te lanço,
Da melodia que
Embala,
Da beleza
Do meu pranto
No poema
Que te fala.

É DIFERENTE
O meu encontro
Com teu rosto
Tão macio,
O brilho do teu
Olhar...
.................
Ou com sulcos
Tão crispados,
Espelho
Da tua alma,
Quando roubam
O encanto
Desse sorriso
Esboçado
De quem constrói
O futuro
Nas ruínas
Do passado.

O QUE EU
Procuro em ti,
É o lado
Desta minha
Perdição,
A beleza
Dos teus olhos
Onde te fala
A alma,
Onde cresce
Cada dia
Uma incontida
Paixão.

TALVEZ O TEU
SILÊNCIO,
Linguagem
Em forma pura,
Me seduza
E me cative
Na fronteira
De uma dor...
...............
Que com poesia
Se cura.
Jas_S:TituloFim1904R

“S/Título”. Detalhe.

Artigo

 

Narrativas da Crise – 2

Diagnóstico do Nosso Tempo

João de Almeida Santos

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Chakra. Jas. 01-2029

Tomo de empréstimo este título de 
um escrito de Karl Mannheim para propor 
algumas reflexões sobre o tempo 
que estamos a viver. E começo por dizer 
que ao reler a versão italiana 
de um livro de Zygmunt Bauman, de 1999, 
curiosamente intitulado, nesta versão, 
"La solitudine del cittadino globale” 
(mas na versão em inglês é 
“In search of politics”), 
parei logo nas primeiras páginas, 
pela exuberância 
e actualidade de dois conceitos por 
ele utilizados. Bauman referia-se a 
Pierre Bourdieu e à sua distinção 
entre um “uso cínico” e um “uso clínico” 
da razão e do conhecimento  (do modo 
como funcionam os mecanismos 
sociais complexos). 

“Uso Cínico” e “Uso Clínico” da Razão

  1. O uso cínico é aquele que se serve do conhecimento para fins de utilidade exclusivamente pessoal, não importa como seja a sociedade, justa ou injusta, solidária ou não. O uso clínico é aquele que se serve do conhecimento para, em comunidade, combater o que é errado, nocivo ou lesivo do nosso sentido moral. Um visa a pura utilidade pessoal; o outro visa a terapia do que vai mal na sociedade. Um é de natureza subjectiva e auto-referencial; o outro é de natureza comunitária ou societária.

Que estranha antecipação destes tempos o uso destes conceitos, a sua semiótica. Cínico versus clínico, em tempos de pandemia. Vem mesmo a propósito. Do ponto de vista da União, e a propósito da pandemia, houve países que tentaram até ao fim das reuniões do Eurogrupo fazer um uso cínico do conhecimento e do poder (em particular os Países Baixos, para onde têm fiscalmente migrado importantes grupos económicos) e outros que fizeram e propuseram um seu uso clínico (os do Sul do continente), acabando por obter uma vitória relativa. Mas até foi necessário ameaçar com o fim da União para se chegar a um fundo de 540 mil milhões comunitários para combater a crise. Ufa, que alívio! Parabéns ao Ministro Centeno. Não são propriamente eurobonds ou dívida mutualizada, mas anda lá perto. Também não são uma mão cheia de nada, como afirmam alguns. Tinha de ser ou seria o fim da EU. Ficamos agora a aguardar as medidas para a crise económica que aí virá.

  1. Fui, como sempre faço, ver a etimologia grega de ambos os conceitos. A do primeiro (“cínico”) remete para as palavras gregas kyôn (kynós) e kynikós – cão e canino. E remete também para a chamada filosofia cínica, de que foi fundador Antístenes. Em poucas palavras, o ideal desta filosofia era a autárkeia, a auto-referência e a recusa do nomos societal, numa certa oposição entre natureza e sociedade, entre privado e público, com apologia do primeiro termo. A do segundo (“clínico”) remete para klinikós – doente, o médico que visita o doente na cama, clínico. E é claro que esta etimologia remete para uma relação social, a que se estabelece entre o médico e o doente.

Não deixa de ser curioso – e por isso me detive neste livro de Zygmunt Bauman – que esta contraposição entre os amigos do “cada um por si”, os “cínicos”, e os que reivindicam a primazia da comunidade, os “clínicos”, assuma, já antes da pandemia, com Bourdieu e, depois, com Bauman, esta curiosa e estranha dimensão semiótica. A posição de Bauman é clara sobre esta dicotomia. Está do lado do “uso clínico”: a liberdade individual só pode ser o produto de um empenho colectivo se não quiser conhecer gravíssimos efeitos iatrogénicos: pobreza de massa, desemprego e medo generalizado. As palavras não são neutras e daí o uso da expressão “uso clínico” e “iatrogenia”, em tempos de pandemia e de busca de terapias para os problemas, que, numa primeira fase, serão de natureza médica, numa segunda fase, de natureza económica e, sempre, de natureza social, e para os quais será preciso encontrar também terapias correctas, através de um “uso clínico” da razão e do conhecimento acerca do funcionamento da sociedade.

  1. E o que nesta crise é curioso é que a auto-referência, a autárkeia seja condição para impedir a contaminação colectiva. O que até parece ser um triunfo dos cínicos, dos utilitaristas sobre os clínicos: preserva-te a ti porque assim preservarás toda a sociedade. Simples, não é, caro Watson? Mas não, não é assim tão simples. E sabem porquê? Porque a garantia de salvaguarda de todos e de cada um está centrada na comunidade. Num exército de operadores de saúde que constituem a garantia última da tua sobrevivência. Um exército comandado pelo poder político, ou seja, pela sociedade. A garantia está, portanto, no “uso clínico” do conhecimento, da razão e do poder. E, de facto, se é a comunidade dos operadores de saúde que está na linha da frente, quem comanda todo o dispositivo de guerra é o governo, não só do ponto de vista operacional, mas também do ponto de vista dos recursos. E sendo também certo que, num plano macro, a maior garantia dada pela União foi para o colectivo, que é a Nação (240 mil milhões), a segunda foi para outro colectivo que é a empresa (200 mil milhões) e que só a última foi para ao singulares (100 mil milhões). Mas, sim, também para estes vai uma garantia da Comunidade.

Afinal, há sociedade ou não?

  1. Esta pandemia é, pois, muito esclarecedora para a política. Tão esclarecedora que até levou um discípulo de Hayek e da Thatcher a dizer que, afinal, sempre há uma coisa a que podemos chamar sociedade. Se um não sabia o que é a justiça social (Hayek) e a outra dizia que não havia sociedade (Thatcher), mas só indivíduos, agora, indo em sentido oposto ao que seguiu o “cínico” discípulo de Sócrates, Antístenes, e o seu sucessor Diógenes de Sinope, Boris Johnson (que a comunidade médica o salve, é o meu desejo), aprendendo depressa (com os gregos?), recuperou a ideia de sociedade e a imprescindibilidade do “uso clínico” da razão e do conhecimento. Para um classicista como Boris Johnson talvez a filosofia cínica já não ocupe hoje um lugar tão central no seu pensamento. E nem sei se, hoje, com o que a vida já lhe ensinou, lá no fundo não pensará, se tal lhe fosse possível, que a ideia de uma sociedade maior, a União Europeia, seria, de facto, a melhor defesa para o combate a este insidioso inimigo. Não sei, não!
  2. A questão é profunda e tem a ver não só com o sentido da vida, mas também com o contexto em que ela é vivida: do íntimo ao social. É certo que todos estamos a experimentar, em medida relativa, um certo eremitismo com o recolhimento a que fomos forçados pelo poder invisível de um vírus ameaçador pelo seu poder intrusivo. Fomos obrigados à defensiva para podermos sair vitoriosos perante a ofensiva do inimigo. O Clausewitz de “Vom Kriege” ensina: a defensiva é superior à ofensiva. É nesta trincheira defensiva que estamos a viver, só nos sendo permitido saídas furtivas para não sermos alvejados pelo inimigo, que avançou de forma avalassadora no terreno, aumentando o número de vítimas e criando mais dificuldades logísticas aos que estão na frente de combate, apesar de numa lógica defensiva. Numa “guerra de movimento” que certamente se irá transformar numa “guerra de posição”, para usar os conceitos de Gramsci.

“L’enfer c’est les autres”?

  1. Este confinamento leva-nos a pensar em nós próprios e muito nos outros. Os que nos podem devolver o contágio. “L’enfer c’est les autres”, como dizia o Jean-Paul Sartre, no Huis Clos, de 1943-44, em plena guerra? Não creio. Os outros também somos nós, porque a imagem nos é devolvida precisamente pela sociedade (pelo outro), para onde se escoam rapidamente os nossos próprios actos.  E que nos chegam, depois, devolvidos como consequência. Observo e julgo – sou observado e sou julgado. Portanto, se “l’enfer c’est les autres”, então o inferno também somos nós próprios (para os outros). A sociedade como um jogo de espelhos.

Mas não terá tudo isto efeitos sobre o que seremos num futuro próximo? Bem sei que, enquanto humana natureza, o nosso ritmo evolutivo é lento e que, por isso, não haverá uma revolução na nossa relação com nós próprios, com os outros e com a natureza. Mas também creio que uma correcta interpretação do que está a acontecer poderá constituir-se como a nova narrativa de forças políticas que queiram afirmar-se como alternativa aos que sempre disseram e dizem “TINA!”, “There Is No Alternative”. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, porque o que eu sei é que a mudança só poderá ser por via de uma política culta, sim, culta e civilizacionalmente preparada. E é aqui que reside o problema e talvez a solução.

Espanto

  1. Por isso mesmo, confesso-me literalmente chocado com o que aconteceu. E não é pela gravidade do facto. Confesso-me chocado sobretudo pela impreparação dos centros de poder mundial, da política, dos serviços de informação, dos laboratórios altamente sofisticados, das Universidades no topo dos rankings mundiais… terem ali à frente dos olhos a tragédia de Wuhan durante tanto tempo e não terem sequer reagido à gravidade do fenómeno. Bem pelo contrário, fazendo jus ao politicamente correcto, terem-se exclusivamente preocupado em trazer os seus cidadãos da cidade sem saberem realmente do que se tratava. Vamos à Lua ou a Marte, mas não sabemos o que se passa aqui ao lado, em Wuhan. Tudo estes poderes vêem, com drones ou sem drones, com satélites ou sem satélites, com serviços de inteligência ou sem serviços de inteligência… e não se aperceberam do que se passava em Wuhan, apesar das mensagens dos corajosos Fang Bin ou dos Chen Qiuschi. Dá a sensação de que somos governados, em todas estas frentes, por imbecis burocratas (passe a redundância) e de a competência residir mais no preenchimento de formulários e na elaboração de receitas fiscais do que na leitura pública do real para uma acção prospectiva.

Não será preciso mais Europa e melhor Política?

  1. Chega-nos agora a notícia de que os USA injectam 3.9 biliões de euros na economia (Governo + Reserva Federal). Têm uma população de cerca de 330 milhões de habitantes. A EU tem 450 milhões e, depois de reuniões esfarrapadas, vai injectar 540 mil milhões de euros, a que se somam 750 mil milhões do BCE, num total de 1, 29 biliões de euros, como fundo financeiro para apoio a nações, empresas e indivíduos. Isto diz tudo acerca do estado da União em período de grave crise sanitária e económica: os USA com menos habitantes injectam na economia o triplo dos recursos financeiros. E muito mais diz quando países que sempre foram profundamente europeístas admitiram, pela primeira vez, pôr a União em causa  se não fosse encontrada uma solução solidária.
  2. Os nacionalistas e os populistas, sobretudo os identitários, esses sim, que sempre rejeitaram a União, voltam a achar que tudo é pouco. Que a União não presta porque dá pouco. Nunca a quiseram, mas acham que devia dar mais. Chegam, impantes, ao espaço público (de onde não saem) e dizem que a União não presta porque dá pouco: uma mão vazia e outra cheia de nada. Eu também acho que é pouco, mas a pergunta simples é esta: e se não houvesse União?
  3. A crise é grave, terá efeitos económicos devastadores, mas não creio que muito mude, porque serão sempre os mesmos a gerir os recursos de combate à crise. Especialistas em explorar as situações de crise, onde circula muito dinheiro com controlo menos apertado e abundam as razões solidárias para reivindicar. A política também não mudará porque estão lá os mesmos de sempre. Onde há burgessos a mais. E interesses privados a cavalgarem o interesse público. Falta de visão estratégica. Os mesmos mecanismos de selecção orgânica das classes dirigentes. A endogamia de sempre. Os entraves burocráticos que tudo atrofiam.

Em suma

E, todavia, há ingredientes suficientes para que as forças do progresso possam retirar lições e promover uma mudança profunda, sabendo-se que ela, afinal, há muito estava inscrita na natureza das coisas. Será? Importa evitar que reste apenas um rasto de destruição com os mesmos de sempre a enriqueceram brutalmente com a crise, com os recursos usados para a debelar. Não estou muito optimista, mas acredito que poderá haver um sobressalto na cidadania que obrigue a política a regenerar-se e a dotar-se de meios que a ponham ao nível mais dos desafios de hoje do que dos interesses de ontem. Há muito por onde começar. Ou a União Europeia não começou precisamente quando recomeçou a reconstrução estratégica da Europa, no pós-guerra, logo a seguir ao Plano Marshall?

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Chakra. Detalhe.

Poesia-Pintura

VOAR

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Pássaro de Fogo”.
Original de minha autoria
sobre desenho de Vera Sousa.
Abril de 2020.
Uccello12

“Pássaro de Fogo”. Jas. 04-2020.

POEMA – “VOAR”

APETECE-ME VOAR
Sobre o teu silêncio,
Confinado que estou
Entre paredes
De um subtil
E incerto afecto
Que me vai capturando
Pela sedução
De uma ausência
Insinuada...

AH, MAS EU SEI
Que estas paredes
São do tamanho
Da minha fantasia
E que o voo,
Livre como é,
Não terminará
Até que te sinta
Pulsar finalmente
Dentro de mim...

E SEI TAMBÉM
Que as minhas asas
Terão sempre
As cores
Do arco-íris
Para com elas
Voar
Sobre o vale da
Tua vida,
Montado num
Pássaro de Fogo.

VER-TE-EI 
Lá de cima
Caminhar distraída,
Perdida
Nas encruzilhadas
Que vais criando
No sendeiro inóspito
Da tua vida
E lançar-te-ei
Âncoras coloridas
Que dêem mais luz
À incerteza
Que te vai na alma.

E AGORA,
Que o pintei,
Já tenho um
Mensageiro
Que te levará,
Com o vento
(Ou num
Inesperado
E feliz reencontro
De palavras),
As cores
Com que, docemente,
Te vou pintando
E as deixará
No parapeito
Da tua janela.

MAS NÃO PRECISARÁS
De abri-la
De par em par
Porque ele não
Entrará...
.............
Poderia
Incendiar-te
A fantasia e
Engravidar-te
A alma
Com o fogo
Que levará
Consigo...
Uccello12Rec

“Pássaro de Fogo”. Detalhe.

 

Poesia-Pintura

REGRESSO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: “Primavera”.
Original de minha autoria
para este poema.
Abril de 2020.
RegressoFinal05LUZ

“Primavera”. Jas. 04-2020

POEMA: “REGRESSO”

ESTÁS TÃO LONGE
E tão perto
Eu te sinto...
.............
Neste tempo
De fronteiras
Eu sofro
O teu silêncio 
Como espinho
Cravado
Da mais brava
 Das roseiras.

MESMO ASSIM,
Mesmo em dor,
Regresso sempre
Ao lugar
Onde eu
Te conheci,
Ao mistério
Do teu rosto,
Quando por ele
Me perdi...

PERDI-ME,SIM,
Mas encontrei
O que julgava
Não ter,
Porque foste
O espelho
Onde me vi
Renascer,
Embora já
Pressentisse
Que por culpa
Do destino
Eu te iria
Perder.

AH, SE SOUBESSE
Onde estás
O vento
Levar-me-ia
Ao parapeito
Da tua incerta
Janela,
Ver a tua
Silhueta,
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A solidão,
Sonhar,
Sentir-me
Um passarinho
Aninhado
Docemente
Na palma
Da tua mão,
Sem vontade
De voar...

MAS EU NÃO SEI
Onde estás,
O que fazes,
Com quem andas,
Se trabalhas,
Se viajas,
Se sonhas
E fantasias,
Se não ouves
Ou não lês
Os sinais que
Eu te dou...
..............
Poéticas
Sinfonias
Em pautas
Onde transcrevo
O que de ti
Me ficou.

OH, QUE DESTINO
Me calhou,
Ter-te 
Encontrado
Um dia
Para logo
Te perder
Nos caminhos
Desta vida
Que me levam
A cantar
Esta triste
Melodia
De eterna
Despedida...
RegressoFinal05LUZRec

“Primavera”. Detalhe.