Poesia-Pintura

TEMPO

Poema de João de Almeida Santos.
Ilustração: "Oráculo".
Original de minha autoria.
Setembro de 2021.
OráculoVersãoPub2

“Oráculo”. Jas. 09-2021.

POEMA – “TEMPO”

É TEMPO DE RECOMEÇO?
Talvez seja,
Talvez não.
O que ontem
Eu já era
É o que hoje
Eu sou,
Não é tempo
De mudança
Nem tempo
De negação
Porque gosto
De cantar
Neste lugar
Onde estou.

O DESEJO
(Sempre instável)
Pediu tempo,
Rituais,
Celebração,
Mas o tempo
(Insondável)
Resistiu
Ao que a vontade
Tentou...
..............
É tempo
De recomeço
Quando o tempo
Não passou?

EM CADA MOMENTO
Da vida
Procuro
O tempo
Que antes
Eu não vivi,
Procuro
Reinventar
Tudo aquilo
Que perdi,
Num poema
Ou em pintura
Para repor
O que sou
Antes que volte
A perder-me
Nos lugares
Pra onde vou.
OráculoVersãoPub2Rec

“Oráculo”. Detalhe.

Artigo

UMA CURTA REFLEXÃO

SOBRE O 11/09

Por João de Almeida Santos

11092021

I.

11/09 – Um ataque bárbaro ao coração do Império. Milhares de mortos. “Sois mais fortes do que nós, mas nós podemos atingir-vos onde mais vos dói”.

II.

OCUPAÇÃO do Afeganistão com apoio da comunidade internacional. Depois, o Iraque, depois, a Síria, depois… o caos no Médio Oriente.

III.

RECRUDESCIMENTO dos ataques terroristas na Europa.

IV.

RESPOSTA literal dos USA: Bin Laden é abatido por tropas especiais americanas na sua própria casa.

V.

INÍCIO de um novo combate generalizado ao terrorismo: drones e assassinatos-alvo com a correspondente crise do direito internacional.

VI.

TALIBÃS RECUPERAM o Afeganistão em vinte anos. Iraque no caos. Síria no caos.

VII.

PELO MEIO, milhões de mortos e refugiados e biliões de dólares perdidos.

VIII.

VOLTA-SE AO PONTO DE PARTIDA com, pelo meio, imensos e generalizados estragos.

IX.

A UNIÃO EUROPEIA, sem uma liderança forte, politicamente legitimada e com poder decisional, não consegue elevar-se a protagonista político internacional. A Rússia e a China jogam na defensiva. Os USA regressam a casa.

X.

O CAOS está instalado na política internacional.

XI.

DE CERTO MODO, os efeitos negativos de longo prazo do 11/09 são muito, mas mesmo muito, maiores do que a sua causa e o seu poder destrutivo imediato e até simbólico.

XII.

A CURA para o mal acabou por provocar mais danos do que o próprio mal.

XIII.

VIVEMOS tempos sombrios.

Recorte1109

Artigo

O caso do livro de Ricardo Marchi

"A NOVA DIREITA ANTI-SISTEMA
O caso do Chega"

(Lisboa, Edições 70, 2020, 206 pág.s)

Por João de Almeida Santos

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SIM, SÓ AGORA tive oportunidade de ler o livro em referência, mas acompanhei as  polémicas levantadas acerca dele, incluindo um abaixo-assinado de colegas de Riccardo Marchi (RM) e até uma insultuosa recensão de outra sua colega universitária. Como se escrever um livro sobre a direita radical fosse crime de lesa-intelectualidade universitária. Muito de esquerda e muito científica. A obra foi solicitada ao autor pela Almedina, na sua qualidade de investigador universitário e de especialista em movimentos de direita radical, tendo a editora pedido ao autor que evitasse um tom apologético, fosse ele a favor ou contra. Isto lê-se na Introdução. Algo que, na minha modesta e desinteressada opinião (não conheço o RM e a minha posição política é conhecida), me parece que o autor conseguiu, prestando um bom contributo para o conhecimento do novo partido.

E, NO ENTANTO, RM viu-se publicamente execrado pelos colegas por ter aceite o desafio de uma conceituada editora de escrever um quase “instant book” sobre uma matéria bem viva e bem polémica nas agendas política e pública portuguesas.

POR NATURAL INTERESSE político e académico, mas também para avaliar da justiça ou da injustiça do tratamento que os seus ilustres pares lhe haviam reservado, fui ler as 206 páginas do livro. E que constatei, terminada a leitura? Que o autor fez um trabalho sério, muito analítico, indo directamente ao assunto, ou seja, analisando por dentro o partido para melhor entender a sua dinâmica interna e a evolução no seu curto tempo de vida.

E CONFESSO, sem sombra de dúvida, que não encontrei algo que possa justificar a qualificação do livro como “um exercício panegírico ao Chega”, não resistente ao famoso e tão científico “teste do pato”, pela Prof.ra Marina Costa Lobo, e a acusação de não cumprir “critérios de distanciamento do objecto de estudo, nem da ciência política nem da história”. Bom, talvez devesse ter feito como a senhora Professora, indo doutorar-se em Oxford, não sobre os poderes do inquilino do n. 10 de Downing Street, mas sim sobre os poderes do inquilino do n. 4 da Rua da Imprensa à Estrela. Isso, sim, é que é distanciamento científico. Talvez observando o CHEGA a partir de Oxford conseguisse mais e melhor distanciamento científico. Só que, na verdade, o que foi pedido pela Editora ao autor foi um retrato analítico do CHEGA, um partido ainda em fase de construção e de afirmação. O que ele fez com grande profissionalismo, saber e rigor. Não uma tese de doutoramento (essa já a tinha feito), mas um bom livro, mesmo sem “teste de pato” a validá-lo. A teoria política precisa de trabalhos como este, trabalhos de campo que procurem o que está a emergir, e não de invenções de água quente ainda que com chancela anglo-saxónica e muitos referees de serviço a atestarem a sua cientificidade. E até acrescentaria que, perante a evidente qualidade do trabalho, me parece credível a hipótese de a implacável analista não ter lido mais do que a introdução, a conclusão e uma ou outra página do livro. Não sei, mas que me fica a dúvida, lá isso fica. Não sei também se o pato grasna (não é essa, nem nunca foi, a minha especialidade científica) ou não, mas sei que está a nadar com algum vigor vistos os números alcançados nas sondagens.

A VERDADE é que, com este livro, fiquei a conhecer razoavelmente o que se passa no CHEGA, de resto, também ele carreando para o seu interior tendências de fundo que se compreendem melhor se olharmos com mais atenção para as novas fracturas que estão a emergir nas sociedades contemporâneas do que para os modelos clássicos da velha extrema-direita. No livro fala-se destas tendências, mas não creio que a Prof.ra Costa Lobo tenha reparado nisso. #Jas@09-2021.

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Artigo

A DESFORRA DE “LELÉ DA CUCA”

Por João de Almeida Santos

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HOJE É DIA DE FESTA, Dia de S. Balsemão. A democracia parece que deseja rever-se no rosto de um PM que, afinal, foi o sétimo constitucional, mas não eleito. Estranho, não é? E ainda por cima não se sabe ao certo se a celebração é por ter sido PM há 40 anos, substituindo Sá Carneiro, depois do trágico acidente, se é por lançar a sua Autobiografia ou se é por ser dono do maior grupo de comunicação português, a Impresa

OH, NÃO SEI MESMO! O que sei é que há imensas coincidências em tudo isto. Umas mais evidentes, outras nem tanto. A festa – será por mero acaso? – acontece em tempo de pré-campanha, quase de campanha eleitoral. Depois, celebra-se, em democracia e em registo republicano, um homem a quem o também republicano Henrique Monteiro, diligente funcionário do Grupo Impresa, chamou, num artigo de 4 páginas e uma coluna, 9 vezes “Príncipe”, equiparando-o também a membro da família real britânica e identificando a esposa do “Príncipe” como “Queen Mother”. E, mais, ouço dizer por aí que também o I Governo Constitucional, de Mário Soares, foi homenageado por ocasião dos seus 40 anos. Não me lembro, mas, se foi, aplaudo, por Soares e por ser o primeiro.  De facto, o seu foi o primeiro governo constitucional e Mário Soares o primeiro PM que resultou directamente de eleições legislativas. O que não aconteceu com o VII. Por isso, se quisermos ser justos, nem o VII governo constitucional pode ser comparado ao primeiro, nem Balsemão pode ser comparado a Soares. Ou estou enganado?

NADA TENHO contra celebrações, mesmo que elas sejam autoglorificações das elites. Se celebram alguma razão haverá para isso. Que se celebrem, pois, e se federem à vontade nos actos celebrativos. Amen. Mas… há sempre um mas… Este caso, estas coincidências de datas, esta justificação para a homenagem, este unanimismo institucional em torno daquele que, um dia, o actual PR baptizou de “Lélé da Cuca”, suscitam-me uma profunda estranheza: o “Príncipe” Balsemão a surgir como principal protagonista e o republicano PM, António Costa, como Oficiante formal num ritual institucional para o qual foram convocados todos os protagonistas institucionais.

NÃO PARECERÁ tudo isto uma entronização oficial da “Impresa”,  no mesmo momento em que Balsemão lança a sua Autobiografia de mil páginas, em tempo de pré-campanha eleitoral autárquica, a escassos 24 dias das eleições, e num momento em que o líder da oposição se encontra num calamitoso estado de prostração, mais parecendo um golpe de misericórdia, com o condenado a caminhar pelo próprio pé para o cadafalso?

O QUE NÃO ME PARECE despropositado é a suspeita de que, com António Costa, passámos a ter um grupo de comunicação social do regime, a “Impresa”. Já lá estava o irmão, o inefável áugure do regime, agora também ele lá fica como Oficiante.

NADA DISTO me parece muito edificante. Tudo sabe a montagem, a aliança tácita de poder, a manobrismo encapotado nas barbas da cidadania. Só falta mesmo incorporar o PSD no PS e criar uma União Nacional, com imprensa do regime, a que se pagará para vigiar e perseguir a pós-verdade, as fake news, a desinformação, através de uma norma regulamentar. Para controlar a incontrolável rede, já que para os outros grupos de comunicação sempre haverá, como houve, alguns milhões de financiamento. 

DIR-ME-ÃO: que mal tem isto? É só uma homenagem, como tantas outras. Até poderá ser, mas não parece e nem sequer parece poder estar inscrita num qualquer genuíno código protocolar da democracia. São excessivas as coincidências, é excessiva a aproximação de dois poderes que se deveriam manter respeitosamente distantes, são falaciosas as justificações para o facto, o tempo do acontecimento é errado, e mesmo inaceitável, as cumplicidades começam a ser por demais evidentes e o que parece ser mais preocupante é a redução da política a mero exercício de poder, tudo sendo legítimo para este fim. Esta, de facto, parece-me ser uma pura operação de poder, um puro ritual de oráculo, uma manobra de bastidores coberta pelo manto diáfano da celebração oficial, a caminho de uma anémica democracia. Não, não me parece que esta celebração tenha sido uma boa ideia e que augure um futuro radioso para a nossa democracia. #Jas@09-2021

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